Na Avenida Lisir Eva...

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Sentir o calor de um coração


No pesadelo monstros nos seguiam e fugíamos, toda a população, em busca de um lugar seguro, um cômodo sem portas ou janelas que nos pudesse proteger do perigo lá fora, mas os monstros adentravam vários locais e não podíamos lutar. Meu amigo, onde ele se perdeu que ainda não nos encontrou? E aquele homem na varanda, por que não vem conosco em busca de muralhas mais resistentes que seu toldo de lona?
Lembro-me daquele mesmo cenário de vários sonhos, aquele vestiário enorme e ermo em meio ao bosque, campo de golf, de festas ou clube de acampamento e aquela casa cheia de passagens secretas pelo sótão, cenários desde a infância ou cenários de outras vidas.
                Havia um abrigo através do instituto de física e lá a maioria tentava chegar, seria suficiente?
                Agora venta, já deve começar a chuva, ouço barulho na rua, tocam aquelas pedras penduradas nas vigas, cujo nome não recordo. Começa a chover, é o cheiro da chuva, mas o som do encanamento da caixa d’água. Finalmente um veículo na rua, uma moto cujo som se prolonga por vários metros. O portão se agita com o vento, as pedras continuam a cantar.
                Domingo de páscoa, fui surpreendido pela sensação de amor familiar, visitas, bastante comida, boa comida, sobremesas, jogo na TV, filmes, seriado... Filme à tarde, com Jackie Chan, filme à noite, Agentes do Destino, um pouco de Matrix com Cidade dos Anjos e aquela sensação de fuga, quase como no sonho. Também ouvi música, Bon Jovi e Evanescence, pesquisei sobre relógios e outros mecanismos e tentei nas redes sociais preencher um vazio que não conseguia explicar.
Anteontem, ouvia antigos cantores de rádio por talvez hora antes de dormir. Ontem, duas obras que ensinam o que é ser engenheiro, um texto de um aluno que desistiu no penúltimo ano depois de uma adolescência nerd e decepções em vários aspectos na principal universidade do continente. A outra obra, ou o outro ensinamento, vem de um garoto, no filme A Invenção de Hugo Cabret. Fantasia, aventura, magia, preciso disso para me sentir feliz.
Um tempo de indecisão, de olhar que se já se tem história no passado, mas sentir medo de como ela será no futuro, medo dos custos das conquistas. Procuro por cômodos que nos defendam dos monstros que nem ao certo conhecemos o rosto, mas sabemos que a outros já aterrorizaram.
Um calor, um abraço, apaixonar-se, estar com alguém que nos aqueça e a quem possamos aquecer. Na minha família somos fortes, meu quarto me protege do vento lá fora, a união nos defende dos monstros. Assim não se troca uma vida de êxitos individuais em terras distantes, pela felicidade de casa.
Outrossim busco me apaixonar por ela. Ela quem? O grande amor da infância? Aquela cujos ideais e tarefas se assemelham com os meus? A garota de gostos extremos, frescos e ideais contrários? Aquela que eu possa abraçar e sentir o calor de seu coração.
                Abraçar para deixar de sentir medo, para sentir serenidade. Às vezes (muitas, muitas mesmo) estamos preocupados com estudo, trabalhos, deveres enfim, sentimos um vazio, uma vontade de um mundo diferente e, em um domingo de páscoa, descobrimos que este mundo que parece distante é, na verdade, um mundo que deixamos, assistir a filmes em uma tarde, seu time ganhar, sentir o cheiro da chuva sobre o edredom, observar o mecanismo de um relógio, abraçar alguém que ama...
    Posto o texto no blog, sabe, se deletar não tem efeito, então volte.


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