Na Avenida Lisir Eva...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Mostrando postagens com marcador Além das Letras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Além das Letras. Mostrar todas as postagens

La Délicatesse

Chove, é novembro, 17.

Toco nas teclas feito em máquina de datilografar

Dois enters,

Na sala da república assisto a um filme no computador, um romance, Nathalie e Markus

Hoje de manhã tive de adiar minhas férias, projetos atrasados.

Hoje à tarde, novamente o facebook sugeriu que eu marcasse Marcos em minhas fotos

Em uma cena do filme, é dito que Nathalie é o tipo de mulher que anula todas as outras, bem como meu pensamento funciona, pois, aconteça o que acontecer ao longo dos anos, por mais que pareça  que tenhamos nos apaixonado por alguém, tudo muda a qualquer lembrança dela.

O evento será no kartódromo em São Carlos; que não funciona como kartódromo, andei de kart pela primeira vez há duas semanas, misturo assuntos, há tanto a contar...

O filme se passa na França; Markus é suéco; estive na Suécia, França, estive em muitos lugares nesses anos sem escrever
Entra um rapaz cantando na república, antes tocava seu violão; lembrou-me Raul
sem escrever em português, sem escrever poemas
deixe-me lembrar as pérolas naquele tempo ostral,
deixe-me achá-las pela memória,
então virá o Natal, estarei livre novamente,
e as pedras brilharão
estive na Holanda, vi pedras que brilhavam; mas por mais belas, não as sentia;
mas sinto o natal se aproximar e voltarei a ser eu

O filme se aproxima do final, é impressionante: o segundo nome de Nathalie é Kerr.
Uma noite em Paris é uma noite mágica, pra lá vai meu pensamento, lembrando da noite em que eu e uma garota russa corríamos atrás do metrô; antes eu conversava com uma adolescente francesa sobre sentir, ali, numa noite estrelada na praça que leva à Torre Eiffel.
Quando mais novo eu passava um tempo em uma árvore no clube do SESI aguardando minha irmã na natação, hoje há um teatro onde havia aquela árvore.


"Foi nesse local, no coração de todos essas Nathalies... que eu decidi esconder."

As ruas do distrito

   Frio de rigoroso inverno. Um coral de crianças na casa do lago, acho que a canção era em italiano. Mas bem diferente da “Tarantella” que tocava em versão completa quando tomei a carona rumo ao trabalho pela manhã.
   Meu trabalho lá é criar, solucionar, imaginar, ajudar, não tomemos tempo discutindo as melhores palavras para este parágrafo, deixemos esta discussão para depois. Vamos à noite.
   Noite. Folhas caídas e espalhadas, deixamos o campus para o distrito. O que fiz no que restou da tarde foi pensar. Janto e, na saída, recordo que haverá apresentação na casa do lago. Uma casa, de tijolos, próxima a um lago, deixo a você imaginá-la.
   Foi a primeira vez que me encontro com um palco desde que um grande filósofo esteve na feira do livro em minha cidade natal. Todavia, lá me encontrei foi com o theatro, com ideias, com amigos... Foi hoje a primeira vez que me reencontro com um palco desde que os palcos deixaram de ser parte de minha vida.
   A peça era sobre amor, entre um escritor que amou até o limite da loucura e uma louca – ou psico alguma coisa, saberia definir alguém da área.
   Poucas pessoas na plateia, talvez fosse o frio, a cultura do país, o deserto... Desertas, as ruas vazias do distrito. A menos pelos carros com luzes a piscar em silêncio, como um exército a verificar o cumprimento de um toque de recolher.
   Minha mãe me fala ao telefone, elas sempre sabem onde estamos. Ela diz para evitar passar pelas mesmas ruas nos mesmos horários, o distrito é violento. Mas para onde foi o “vem pra rua”, lema nacional deste ano se nas ruas de suas casas não se arriscam a andar e sentir o raro inverno?
   E naquela esquina em especial, recordo de uma das poucas músicas que realmente sei cantar inteira. Daqueles versos “E ajeitava o meu caminho pra encostar no teu”. As outras fico a assobiar enquanto minhas mãos tocam instrumentos invisíveis, geralmente de sopro ou teclas.
   E foi assim, ao escolher um trajeto novo, quis o destino que eu encontrasse uma outra casa, entre a dela e a minha república, que me será muito importante em um futuro próximo.

Uma Rua Deserta e Anjos de Natal


Uma rua deserta e anjos de natal é o que restou? Madrugada de 30 de novembro e eu não tenho pensamentos. Queria que as palavras fossem mágicas, mas palavras são palavras e pessoas são humanas, as palavras não se arrancarão das páginas e viajarão pelo passado e pela distância a fim de reconquistar e recuperar o que perdi.
                Uma rua deserta na madrugada e anjos de natal que iluminam um pedaço do mundo. Natal, uma data que ilumina um pedaço do ano, uma data que salva, sempre minha data favorita, mas mal posso ouvir essa palavra e a repito, e a repito.
                E os pensamentos são opacos, como a lua desse 30 de novembro e a rua deserta com seus anjos de natal. Onde antes passavam os anjos de Natália.
                Onde antes passavam tantos sonhos, onde hoje o que restou é uma rua deserta e seus anjos de natal. O antes... O antes era a grama, a lua, as estrelas e a distância éramos nós, distantes dos problemas do mundo, sentados no gramado do campus. O antes era o beijo ao som ao vivo de Lenine, como em filmes, como trilha sonora, como protagonistas, como o par romântico, como o que levaria ao felizes para sempre. Antes eram os melhores dias, diria o melhor ano na universidade. Antes era a partitura deixada em seu para-brisas, o jantar em sua casa, a comemoração por ter passado no mestrado e os beijos, toques e abraços pela madrugada, quando evitávamos o sono e eu desejava que o tempo não passasse ou, se passasse, que fosse ali, daquele modo, nós dois e os bancos do carro.
                Hoje a música são os leves toques de Debussy, Beethoven e Chopin no piano triste na internet. Hoje é a despedida, hoje é apenas uma rua deserta, os anjos de natal e as lembranças. Lembranças da partida de quem mais me amou, lembranças da despedida de quem amei... E fica assim, opaco ou vazio, como uma rua deserta com a lua escondida. Sem rumo, com seus amigos se dividindo rumo a vários continentes, sem emprego, sem saber se voltarei para casa ou terei uma vida corrida em uma grande cidade ou em uma cidade qualquer liderando pessoas com vidas corridas para que um dia liderem pessoas com vidas corridas até que só haja corridas e não haja vidas.
                Mas veja que a ciência me chama e as palavras querem ser escritas, estou na capa do jornal. Meu texto na capa do jornal e outros resultados que me orgulham, mais, bem mais que o diploma, o que levo da universidade são comentários como “orgulho de conhecer essa figura”, parabéns e tantos elogios. É o que se leva, as recordações, de palavras, de toques, de sensações, de sentimentos, de vitórias, de derrotas, de alegrias, de tudo, as recordações. Ademais, é uma rua deserta, sem saber para onde ir, o renascimento e os anjos. Uma rua deserta e os anjos de natal.


Sobre muitas coisas da vida. Vida, dias perfeitos.



Começo a contar esta história em uma tarde de dia útil, foi uma terça ou quarta-feira há algumas semanas, quando caminhava em direção ao bloco de aulas da Engenharia de Produção e ali pela praça no centro da universidade, em um estande fixo de madeira, crianças vendiam porta canetas e clipes e panos de prato, se bem me lembro.
As vendas são destinadas à manutenção de um projeto social do qual essas crianças participam aqui mesmo na universidade, não muito longe de onde me encontro esta noite a escrever este relato. Comprei então um porta canetas e o deixei guardado, ainda fechado, dentro de meu guarda-roupa, em uma folha de plástico transparente decorado.
Então se seguiram os dias, trabalhos escolares, provas, pesquisas para o TCC, iniciação científica e, em especial, destaco nossa apresentação pelo nosso grupo de teatro, cujos ensaios ocorrem no salão cultural do nosso centro acadêmico – embora o grupo não se restrinja a estudantes desta instituição.
Em um dos encontros no semestre passado, falávamos por algum motivo sobre dança e uma garota disse ter vontade de dançar. Então, comentei que ali no centro acadêmico havia cursos de danças, mas eu não participava por não ter um par. Ela lançou o convite e concordei; porém isso foi deixado para depois das férias, que se aproximavam após as corridas semanas de provas de final de semestre.
As aulas voltaram em agosto, neste mês fui com um amigo a uma festa junina aqui na arquitetura e encontramos com o pessoal do teatro, donde formamos dois casais para as aulas de dança de salão. Foi que minha parceira teve de faltar – após um pedido de desculpas – e meu amigo desistiu do curso, pois era no horário de almoço. Deste modo, aconteceu de eu trocar definitivamente de par para a aula de dança.
Dança é uma bela arte, mais belas são as danças circulares e as de casais, como valsa, bolero, ou mesmo forró, samba de gafieira e salsa, mais comuns na cidade. Bela não para ser o único homem a saber dançar e aproveitar de todas as meninas, mas pela arte do encanto, do encantar, pelo prazer em acertar, em entender um mundo diferente do que estamos acostumados.
Dancei uma tarde, no ano passado, assim, de repente; durante um intervalo dos ensaios, alguém colocou My Girl de The Temptations – aquela música do filme “meu primeiro amor” – Foi com a mesma garota que quase se tornou minha parceira de danças aulas. A mesma que, no final do ano passado, em seu aniversário, fui escrever alguma mensagem em seu facebook e me dei conta de como ela possuía a rara combinação de beleza, inteligência, ser divertida, humilde e cativante – curioso que no último final de semana assistia a um filme em que esta era mais ou menos a frase que o protagonista dizia a sua esposa, só agora me dei conta disso.
Com essa mesma garota, passei algumas noites, dias inteiros, mesmo madrugadas a ensaiarmos para a apresentação ocorrida em setembro, há umas duas semanas e meia. Estava quase todo o grupo, mas como a peça era formada de muitas cenas individuais, fiquei a ensaiar com ela nas salas ao lado.
E ela dançava, livre, opunha-se aos demais personagens da peça, pessoas que não se tocavam, que ficavam imersas, mergulhadas em um sistema de egoísmo e consumismo, o qual a peça criticava. Ela dançava, bela, com suas roupas finas e leves.
Em um ensaio, um spot de luz acendeu antecipadamente sobre nós, ficamos – eu, pelo menos – imóveis, como quem é pego no flagra fazendo alguma coisa que não poderia ser vista.
Esse é parte do contexto da história que venho contar, uma parte bem pequena, muito resumida, sem citar o coração de papel que a entreguei na madrugada,  as conversas que tivemos em seu carro na volta dos ensaios – mesmo que eu morasse a poucos metros dali, no alojamento da universidade – do que falamos e nos conhecemos... Do que gostamos falarei um pouco e então prossigo a contar.
Gosto de filmes, de histórias de filmes, de cenários de filmes, de quando as coisas em nossa vida acontecem como nos filmes; como aqui na universidade, quando chovem flores e estamos a caminhar, quando faz frio e usamos casacos, quando vencemos, quando vemos o trem, quando viajamos e olhamos o horizonte pelo caminho. Ela gosta da lua, de ver a lua em sua pequena cidade do interior, onde as nuvens não refletem as luzes de uma grande cidade, deixando o céu escuro, misterioso e encantador.
Apresentamos então a peça, fomos muito parabenizados, embora eu estivesse pessimista devido ao pouco tempo de ensaios e de, particularmente, estar cheio de afazeres na graduação e meu personagem não ser tão engraçado como o do ano anterior.
Atendi seu telefone quando sua mãe ligou, sentia-me mais próximo e apaixonado. Gostaria de dizer, de beijá-la, tive a paciência correta.
De lá fui fazer minhas malas e os encontrei – o grupo – mais tarde na lanchonete. Partiria pela madrugada em direção à capital, para minha primeira dinâmica de grupo em processo seletivo de estágio. Então esperaria acordado, porém ainda era cedo quando deixaram a lanchonete, exceto ela, eu e seus amigos. E, então, foram também, fiz questão de que não precisariam me esperar.
Fui à capital, sozinho, mas um amigo me encontraria para levar-me da estação ao prédio. Metrô, bairros nobres, prédios, roupa social, café, vitamina, dinâmica de grupo, metrô, foto no MASP, depois lanche e outra vitamina, metrô, casa.
No domingo ela me escreveu, em meu mural no facebook, uma apresentação, como seria minha apresentação em uma empresa, um enorme parágrafo de elogios. Não soube como responder, disse que o faria pessoalmente e, após outro ensaio em uma noite, conversamos por certo tempo, poderíamos ter nos despedido com um beijo, não tomei a iniciativa.
No outro dia, mais uma vez partira eu rumo à capital, outra dinâmica, em bairro próximo ao de sete dias antes. Camisa emprestada, deixara as minhas em casa e o convite fora de repente. Desta vez fui com um amigo que também participara da dinâmica, aliás, muito mais organizada, onde tivemos muito mais liberdade e muito podemos aprender. Café, foto, almoço no shopping, trem, metrôs – em um deles, a campainha soou enquanto meu amigo estava na porta, puxei-o um instante antes da porta fechar. Mais um dia na capital com histórias a se contar.
Retorno, fim de semana em casa, visita à empresa de meu pai no dia da família, que começara com uma palestra sobre conhecer uns aos outros, auto-estima ou... bem, o dia começara antes, era dia de eleição, decepção com os rumos políticos de uma cidade que, embora grande e supostamente desenvolvida, está marcada desde sempre pelo coronelismo. Uma revolta que me desviava a atenção quando tentava fazer outras coisas, mesmo estudar na segunda-feira na faculdade.
Já à noite recebo novo convite, agora uma entrevista de emprego. Estava certo que na terça iria a uma dinâmica em Jundiaí, porém este novo convite me faria retornar à minha cidade, em um hotel próximo à prefeitura. Sempre gostei de andar pelo centro, principalmente quando chega o natal ou quando fica aquele clima londrino, nublado. Desta vez, seria um prazer diferente, passear pelo centro em roupas sociais, desfilar posso dizer. Nessa terça-feira, ontem, havia na praça central um ônibus do Menina Fantástica e uma fila de garotas que sonham no futuro serem modelos.
Primeiro tomei um sorvete com meu amigo e contei a ele sobre o que acontecera na noite anterior. Ele ficou feliz, disse que sentia até mais feliz do que se tivesse sido com ele. Interessante dizer isso, pois o dia prometia um paradoxo. Eu e meu amigo, em nossa cidade, disputando a uma única vaga de emprego, eu, meu amigo e umas cinco pessoas com currículos inferiores. Meu amigo, dono da maior nota do curso e de um dos melhores, talvez o melhor, currículo de nossa engenharia entre as pessoas com quem convivo. Meu amigo, que namora uma garota que eu apresentei e que um dia eu mesmo pensei em namorar. E ele ficou feliz pelo que contei sobre a noite anterior, eu ensinei onde ficava a sorveteria, meu amigo.
Da sorveteria voltei ao centro, entrei na catedral, agradeci, olhando para a imagem no vitral, como costumo fazer quando entro lá. Observei a beleza da catedral e as palavras em latim, imaginando o que poderiam significar. De lá fui ao antigo hotel, hoje centro cultural, com exposições e, nesta semana, oficinas de instrumentos musicais. A flauta, a flauta era a que mais me chamava a atenção. Assim, digo agora o que então ocorrera na noite de segunda-feira.
Estava diante um paradoxo, participar de uma dinâmica em uma multinacional em Jundiaí ou retornar a Ribeirão e disputar uma vaga única com o cara com a melhor nota da sala, várias iniciações científicas e vários títulos e prêmios acadêmicos? Ribeirão, a mesma Ribeirão pela qual sou apaixonado, mas que teimava em eleger os mesmos políticos a décadas, a mesma Ribeirão que me expulsara de seu grupo no facebook nessa mesma segunda-feira, feito ditadura, após eu demonstrar sutilmente minha insatisfação com o resultado das eleições.
Não tenho aulas às quintas; sexta é feriado, dia das crianças e de N.Sra Aparecida (interessante, agora lembro que na terça eu explicava para minha mãe como se abreviava N.Sra, após ter pesquisado na internet; porém ainda não salvei no computador de casa umas fotos que ela me pediu, apenas aqui no note e no pendrive). Assim, parecia não haver prejuízo se eu voltasse para casa e por lá ficasse durante toda a semana. A questão era, ia na segunda mesmo ou esperava pela manhã de terça-feira. Mais uma vez, tive a paciência correta.
Estaria a garota a fim de mim? De mim? Logo de mim que nunca tive namorada? Quem nunca havia beijado além de três beijos de despedida há três anos, porém totalmente mal feitos, pois errei ao seguir o conselho de um amigo sobre como se beijaria. Mas realmente a fim de mim? Curioso é o destino. A palestra na empresa no domingo havia sido de auto-estima, contive-me em minha educação, em meu interesse pelo lugar e em meu estranhamento sobre o tema, esperava uma apresentação da empresa, não questões morais. Porém é como aprendemos no teatro, alguém apresenta algo, não criticamos, não julgamos, aceitamos a ocasião, aceitamos a coragem em apresentar, aceitamos a dedicação.
Se eu voltasse para casa, seria por uma semana, muito tempo para um engenheiro que vive seus anos de graduação resolvendo grandes problemas todo tempo, velozmente, pois dezenas, centenas de outras questões aparecem todo momento.
Fui então até uma das bibliotecas da universidade, onde passei uma manhã a tirar dúvidas de física para a prova de mestrado da garota. Raramente frequento a biblioteca da física; utilizo a da engenharia, por ser do curso e, às vezes a da química, por ser mais perto. Resolvi ir até lá, queria a encontrar e a encontrei, estudando.
Disse que fui fazer uma visita, discutimos alguma coisa de física, ela me disse que esperava por um rapaz, um doutorando em física, que lhe daria aulas particulares do tema. Foi a segunda vez que senti ciúmes; mas logo ela disse que era pago e entendi que o professor estaria lá para dar aulas. Ciúmes mesmo foi em outro instante, ao final da peça naquela outra noite, ela me disse parabéns, eu respondi com um abraço, não tão forte como de um homem que aparecera depois, mais alto, mais velho, mais forte; mais íntimo, pensei. A felicidade me veio quando comentou no encontro da semana passada, no qual discutíamos sobre as impressões causadas pela peça, que o namorado de uma amiga lhe viera retribuir o abraço – que a personagem dela dava no público. O namorado de uma amiga, então entendi.
A aula seria das 19h às 21h. Anotei seu telefone, enviei uma mensagem às 19h25min, uma mensagem bem curta, citando um lugar e um horário, 21h30min, comer açaí – o açaí foi ideia de outro amigo, um dos dois com quem me reunia na biblioteca da engenharia para fazermos um trabalho que deveria ser entregue na manhã seguinte, terça-feira. Ele é um amigo sábio, já devo ter escrito algumas vezes sobre ele, sobre eles, aqui no blog.
Fui tomar banho, enviaria o trabalho por e-mail e entregariam para mim. Ela respondeu às 21h08min, depois deu ter atendido rapidamente ao telefone quando um amigo – o mesmo que me foi comigo a São Paulo – dissera ter sido chamado a uma dinâmica – na mesma Jundiaí que deixei de ir na terça-feira, ontem.
21h08min: NOME, vc foi pro top a¿ai??
21h09min: Não ainda, mas me dirijo à rodoviária ali perto.
21h10min: Vc partir¿ q hras??!
21h11min: Amanhã só. Está com fome?
Eu ainda estava na faculdade, virei, passei pela praça, voltei à biblioteca. Ela se encontrava em outro lugar, em uma sala de vidro, passei atrás dela e a vi com o celular. Digitou alguma coisa, estava respondendo a mim.  Porém a vi aquando apagou a mensagem e começou a reescrever. Estaria em dúvida? As mulheres perfeitas também seriam meninas quando sozinhas? Também não sabem o que dizer?
Saí para que não me visse, esperei com o celular na mão do outro lado da parede – que não é de alvenaria, mas aquela repartição. Ela demorou para responder, ou estariam os segundos durando horas? Decidi entrar na sala, ela estava com fome, quis terminar de ler uns tópicos antes de ir; enquanto eu li a prova de um ano anterior.
Fomos ao açaí, pedi um sabor diferente para que ela pudesse experimentar, conversamos sobre muitos assuntos, saímos pouco antes do estabelecimento fechar. Voltamos a seu carro e ela me deixou na porta do alojamento da universidade, enquanto o rádio sugeria músicas românticas e outras músicas também.
Não me recordo de quem se referiu primeiro à lua, ela, ela quis ver a lua e eu disse ter descoberto um lugar em que desse para vê-la como no sítio, o campus da universidade vizinha, onde ela estuda. Era madrugada, mas fomos para lá. E então sentamos na grama – na segunda tentativa, depois do formigueiro da primeira – próximos a uma mata e a um prédio didático.  A lua não estava lá – ela disse que há alguns dias não a encontrava – mas havia estrelas, a grama, ela e eu. Conversamos ainda sobre muitas coisas e, após um pequeno silêncio, eu perguntei: “sabe do que tenho medo?”. Tinha medo de me declarar e então não podermos mais sentar na grama em uma madrugada, sem recordar uma recusa e viver em um clima túrbido. Disse que tinha medo de dizer que estava a fim dela.
Ela iniciou sua resposta, sua primeira palavra me trouxe à mente o início daquele modo educado de se dizer não, de dizer que somos apenas amigos. Acho que sua segunda palavra também; porém ela me surpreendeu, disse também estar a fim de mim.
E agora? Então nos beijamos, ela me ensinou a beijar, e deitou-se em meu ombro, ficamos por horas pela madrugada. Tinha meu trabalho a entregar, e ela sua prova, mas nada mais importava, nada que não fosse no plural, no nós.
                Outros minutos, hora – não sei ao certo, para mim pareceram dias – passou-se entre os bancos da frente de seu carro quando me deixara no alojamento e nos beijávamos.
                Passou-se a terça-feira. Amigo, lembranças, entrevista, hotel, catedral, centro cultural, casa, família...  Não a liguei no dia seguinte, porém deixei uma mensagem subliminar no recado que enviei ao grupo de teatro, avisando que me ausentaria esta semana – em resposta ao e-mail dela, que não frequentaria esta semana, pois a prova do mestrado se aproximava. À noite decidi aprender a tocar a flauta que minha avó me dera, há um ótimo professor no youtube. Também decidi retornar a São Carlos e para cá vim hoje pela manhã. Ela toca flauta.
                Hoje tive apenas uma aula, o professor faltara da segunda. Ou devo dizer ter tido duas, caso conte a aula de dança. Procurei por ela na biblioteca três vezes ao longo do dia. Na primeira ocasião, levava uma trufa de morango, que ficara em meu bolso até após o almoço, quando eu já constatara que havia derretido. A parte engraçada é ter guardado o celular no mesmo bolso.
                Na segunda tentativa eu ficaria a estudar por lá, porém meu touchpad decidiu não funcionar e retornei à biblioteca da engenharia. Na terceira tentativa, encontrei seu carro e agi rapidamente, num plano de repente, talvez genial, talvez não.
                Voltei à engenharia, liguei o computador, encaminhei para meu e-mail a partitura de uma música romântica que conheço, cuja banda por ela foi curtida no facebook. Fui ao xérox em uma das saídas do campus, imprimi, retirei o título e voltei para o alojamento.
                Lá, ainda em dúvida se eu deveria fazer o que planejava, procurei por uma fita adesiva – a essa hora a papelaria já deveria estar fechada – e, então, dentro de meu guarda-roupas, avistei aquele porta canetas e porta clipes que havia comprado e ainda não aberto, era embalado por uma folha plástica decorada e amarrada por uma fita de cetim, já com as pontas enroladas, em uma cor próxima ao rosa e ao bege.
                Enrolei as folhas da partitura no cetim e, para não ser visto com elas no campus e não amassá-las, guardei onde guardo a flauta que minha avó me dera. Atravessei o campus, temia não encontrar seu carro após ver algumas vagas livres. Então avistei, retirei as duas folhas da bainha da flauta, com certa dificuldade, pois o papel ficara preso por alguns instantes. Amarrei o cetim no limpador de parabrisas com as folhas enroladas e agora me encontro a contar essa história para jamais esquecer esses dias em que, como disse meu amigo na sorveteria, as coisas parecem ir tomando seu rumo e darem certo, complemento dizendo que são dias em que estou em diversos cenários, com diversas histórias, como  nos filmes, como enxergo a vida, que acontece como eu desejo.
                Abrir mão de uma vaga de emprego torna-se mais prazeroso que a conquistar, é sinal de maturidade, além disso, há uma chuva de oportunidades. Passear em São Paulo, entrar na Catedral – há um bom tempo não vou a uma missa – maravilhar-me com o centro cultural, as ruas do centro, as ruas do bairro, dirigir pela cidade, aulas, pesquisas, provas, apresentação teatral, dança, contar boas notícias, comer açaí, compartilhar açaí, olhar para o céu noturno sentados na grama, beijos no carro, braços, pescoço, rosto, boca, tocar pessoas, amar, fazer alguém feliz...



    Programo o blog para publicar este texto daqui há alguns dias, vou esperar o que vai acontecer antes de contar a notícia...



     Bem, hoje é 30 de novembro, volto ao texto, não o reli ainda, mas vim publicá-lo no blog...





























Mediunidade em Fernando Pessoa

   Há alguns dias relembrava as obras literárias do ensino médio; hoje, entre ouvir uma e outra versão de Wuthering Heights (Morro dos ventos uivantes), converso sobre livros com minha mãe, abro meu armário de livros, noto na fila Mensagem, de Fernando Pessoa, folheio, deparo-me com um poema escrito por ele como ele mesmo, como um sinal de psicografica, de que muitos estudiosos desconfiam.

Súbita mão de algum fantasma oculto
14-03-1917

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo,que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Reencontro


                Há um momento que descobrimos que amizade é o mais importante do mundo.  Nesta noite encontrei amigos que há muito não via; alguns, há mais de seis anos.
                Histórias. O amigo sentado a minha esquerda foi quem me ensinou sobre a távola redonda e é hoje o que mora mais distante entre os presentes. Após anos de aventuras, os cavaleiros se reuniam para contar suas jornadas e, em nosso caso, também para relembrar o passado, relembrando um ao outro histórias passadas há muito tempo.
                E é mágico quando alguém nos faz recordar de algo que já não nos lembrávamos.
Há muito que se escrever, porém nenhum modo seria o melhor ou conseguiria explicar anos de todas as sensações e como conhecemos bem o tom de voz, gestos, movimentos de quem convivemos por muito tempo e nos é caro.
Sinto assim um abraço da saudade, do tempo, de muitas coisas. E, segunda-feira, quando reiniciarem as aulas (para aqueles cujas faculdades não estão em greve), ou quando voltar ao trabalho, a cuidar da filha, ao encontrar clientes... Então estaremos partindo novamente a uma nova etapa, uma nova jornada.

O Escritor da Madrugada: Despedida de Ribeirão Preto

Em minha terra palmeiras imperiais
enfileiram-se ao longo do ribeirão
Singra em sonho US Amália sem estação
na praça de Shimidt, rei dos cafezais

Aqui córrego corta o caminho do chopp
Luzes cintilam no chão céu de estrelas flamas
Em lamacentos cartéis com condutas torpes
Corruptos coronéis corroem a Câmara

Mas se um novo vendaval faz com que falais
Adeus à Catedral, Theatro e tudo mais
Relembre do passado e vá com Deus em paz

Logo então vai um engenheiro, que se despede
do amor primeiro: a luzitana Giovana
Na escola em uma Vila ribeirão-pretana

Glossário:
Singrar: velejar
US Amália: locomotiva abandonada na Praça Francisco Schmidt – Vila Tibério
Caminho do chopp: alusão ao túnel que ligaria a choperia à cervejaria
Vendaval: referência ao tornado de 1994 que marcou a história da cidade
Luzitana (com z): avenida de Ribeirão Preto

O Escritor da Madrugada: Ágata Morilla

Este é um soneto inglês (três quartetos e um dístico), escrito ontem à noite pelo Escritor da Madrugada:

Ágata Morilla

Se possível fosse, eu mergulharia
em nossa fotografia, daquele Festival.
Tu, bela menina, que minha não seria,
mas foste por um dia o amor deste mortal

E agora o engenheiro, distante por inteiro,
só antigo companheiro de um mundo irreal
não sabe o que é lágrima, incapaz de virar a página
e esconde feito nada em aventura teatral

Fora o brilho ofuscando em doravante desengano
por opiniões, por engano em uma rede virtual.
Covarde desvairado ou um nerd abobado
outrora encantado em passado cabal.

Hoje olho para a foto de um tempo já remoto,
em instantes já denoto saudades do notório nosso festival

O Escritor da Madrugada: Em tarde calma, treino poesia

Pensando na vida
vi-me de partida
por estrada perdida
sem saber onde chegar
fui sem despedida
por estranha avenida
aqui dentro querida
decidido a trabalhar
foi que um belo dia
decidi que usaria
outra forma de falar
usarei apenas verso
e, assim, se desconverso,
é por que não sei rimar
logo me justifico
estes versos mirifico
pondo exemplo no lugar
“lá na frente de repente
um andante vem contente
com seu dente coerente
ontem quebrado por azar”
pergunto que rima é essa
feita assim toda com pressa
não é isso que interessa
e hoje vou te explicar
rima rica deve ser
toante a se esconder
com prazer no atelier
como ouvir o som do mar
porém se assim elaboro
é por que este laboro
serve para ensinar

O Escritor da Madrugada: Meia noite nos cadernos

   Este ano não vem fazendo tanto frio como no ano passado aqui no interior paulista, mas eis que vem à tona o ritmo de final de semestre na melhor faculdade do país.  Quem sabe o frio também chegue (refiro-me ao tempo gelado, literal). Encaminho um poema do ano anterior.

O Escritor da Madrugada: Meia noite nos cadernos:    Este é um poema que escrevi para um concurso em junho de 2011 e, caso fosse publicado, não poderia estar presente em outros lugares a...

O Poema do Engenheiro


Vejo um filme e um físico viaja no tempo
Ele é brasileiro, João.
Saudades de seu grande amor
Arrependimento, tempo que não volta atrás.
Momentos que não voltam atrás
Engenheiro, profissional sem juventude
A aventura é correr atrás de um ônibus um dia
Ser parado por um policial em outro
e-mails de estágio, projetos de IC, estudos de CNC...
uma caloura até parece se interessar em uma madrugada na arquitetura
algo lógico, diferentemente dos sonhos
Um tempo livre, a seleção treina e o engenheiro assiste sozinho na multidão
Leva uma bolada até e se sente feliz por isso, torcia por isso
Seu time joga, mas não é campeão desde os gloriosos tempos do ensino médio
Sozinho em um cinema, andar pela cidade
Esses são dias felizes ao engenheiro
Noutros, acorda incerto do horário e da confiabilidade no despertador
Pode ser 3 da manhã, seu coração dispara no medo de perder a prova
De repente, são 3h15min, acorda novamente em desespero
6h30min, acorda antes do celular despertar
O engenheiro não sabe aonde vai
Estágio, mestrado, outra cidade, outro país
Não sabe onde estará ou se alguém deixará ainda que não queira
Defende a vida, defende a terra, defende a nação
E o som de seu brado é o metal que tine
O assobio é o metal forjado em água
Dizia aquele empresário: se dinheiro fosse sua única esperança, jamais teria independência.
Sua segurança é sabedoria, experiência, competência...
Conhece o mundo, conhece a natureza e tenta compreendê-los
E não é fácil
E nem mesmo se compreende
Conhece as incertezas e tenta solucioná-las
Não se distancia dos artigos, apenas se distrai
Em um dia chuvoso, porém, procura o que gosta de fazer
Bolinhos de chuva, desenho animado, pensar naquela garota...
O engenheiro tenta reencontrar o passado,
Imaginar, engenheirar uma vida de onde a deixou
Se pudesse voltar, mas não seria mais ele
Com seus deveres, pois é capaz de mudar o mundo, então deve melhorar o mundo,
Pois, como disse o senhor, a quem muito é dado, muito será cobrado,
Mas nem é por temor, é por saber de seu dever e de seus desejos
Engenheirar o bem, engenheiro, engenheira, engenharia...
Também pensa no futuro e no distante,
Mecânica quântica, os segredos do universo,
As probabilidades,
As distorções nas leis,
As leis incompreensíveis,
O espírito,
A política,
A filosofia,
A sociologia,
As noites de sábado no observatório,
As tardes nos laboratórios,
Desenha, projeta, dimensiona, analisa, controla
Empreende, planeja, lidera,
lê as curvas dos fluidos e os códigos de computador
Sente o calor
Mas é tão estranho escrever um poema sem falar de amor
O engenheiro ama,
tanto que se perde em sua metrologia,
funções tendem e passam do infinito
integram, entregam,
ama a criação Dele, ama suas adaptações
ama o mundo e é pelo mundo que engenha,
ama pessoas, mesmo que se distancie
ama uma garota que decepcionou
quem, de repente, já é mulher
e vive feliz com outro alguém
a maior honra do engenheiro é seu respeito
soluços são engolidos ao dizer sua profissão
é difícil lidarem com o que o engenheiro faz,
é difícil chegar onde ele chega
nem o engenheiro se sente engenheiro,
pois a natureza é ainda mais complexa
a ponto de ensiná-lo a ser humilde
e assim ele vai,
com o escudo de Minerva,
sob uma oliveira em flor,
um pinheiro ou um ipê,
engenhando o mundo
resolvendo cada detalhe
tentando melhorar,
parando com os gerúndios no poema,
a fim de um mundo mais belo
e funcional
como conseguir engenhar
e aprende o que ainda não consegue
como engenhar um poema
e escrever uma bela continuação

Open Panel

Label

Blogroll

Labels

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...