Na Avenida Lisir Eva...

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La Délicatesse

Chove, é novembro, 17.

Toco nas teclas feito em máquina de datilografar

Dois enters,

Na sala da república assisto a um filme no computador, um romance, Nathalie e Markus

Hoje de manhã tive de adiar minhas férias, projetos atrasados.

Hoje à tarde, novamente o facebook sugeriu que eu marcasse Marcos em minhas fotos

Em uma cena do filme, é dito que Nathalie é o tipo de mulher que anula todas as outras, bem como meu pensamento funciona, pois, aconteça o que acontecer ao longo dos anos, por mais que pareça  que tenhamos nos apaixonado por alguém, tudo muda a qualquer lembrança dela.

O evento será no kartódromo em São Carlos; que não funciona como kartódromo, andei de kart pela primeira vez há duas semanas, misturo assuntos, há tanto a contar...

O filme se passa na França; Markus é suéco; estive na Suécia, França, estive em muitos lugares nesses anos sem escrever
Entra um rapaz cantando na república, antes tocava seu violão; lembrou-me Raul
sem escrever em português, sem escrever poemas
deixe-me lembrar as pérolas naquele tempo ostral,
deixe-me achá-las pela memória,
então virá o Natal, estarei livre novamente,
e as pedras brilharão
estive na Holanda, vi pedras que brilhavam; mas por mais belas, não as sentia;
mas sinto o natal se aproximar e voltarei a ser eu

O filme se aproxima do final, é impressionante: o segundo nome de Nathalie é Kerr.
Uma noite em Paris é uma noite mágica, pra lá vai meu pensamento, lembrando da noite em que eu e uma garota russa corríamos atrás do metrô; antes eu conversava com uma adolescente francesa sobre sentir, ali, numa noite estrelada na praça que leva à Torre Eiffel.
Quando mais novo eu passava um tempo em uma árvore no clube do SESI aguardando minha irmã na natação, hoje há um teatro onde havia aquela árvore.


"Foi nesse local, no coração de todos essas Nathalies... que eu decidi esconder."

Sobre muitas coisas da vida. Vida, dias perfeitos.



Começo a contar esta história em uma tarde de dia útil, foi uma terça ou quarta-feira há algumas semanas, quando caminhava em direção ao bloco de aulas da Engenharia de Produção e ali pela praça no centro da universidade, em um estande fixo de madeira, crianças vendiam porta canetas e clipes e panos de prato, se bem me lembro.
As vendas são destinadas à manutenção de um projeto social do qual essas crianças participam aqui mesmo na universidade, não muito longe de onde me encontro esta noite a escrever este relato. Comprei então um porta canetas e o deixei guardado, ainda fechado, dentro de meu guarda-roupa, em uma folha de plástico transparente decorado.
Então se seguiram os dias, trabalhos escolares, provas, pesquisas para o TCC, iniciação científica e, em especial, destaco nossa apresentação pelo nosso grupo de teatro, cujos ensaios ocorrem no salão cultural do nosso centro acadêmico – embora o grupo não se restrinja a estudantes desta instituição.
Em um dos encontros no semestre passado, falávamos por algum motivo sobre dança e uma garota disse ter vontade de dançar. Então, comentei que ali no centro acadêmico havia cursos de danças, mas eu não participava por não ter um par. Ela lançou o convite e concordei; porém isso foi deixado para depois das férias, que se aproximavam após as corridas semanas de provas de final de semestre.
As aulas voltaram em agosto, neste mês fui com um amigo a uma festa junina aqui na arquitetura e encontramos com o pessoal do teatro, donde formamos dois casais para as aulas de dança de salão. Foi que minha parceira teve de faltar – após um pedido de desculpas – e meu amigo desistiu do curso, pois era no horário de almoço. Deste modo, aconteceu de eu trocar definitivamente de par para a aula de dança.
Dança é uma bela arte, mais belas são as danças circulares e as de casais, como valsa, bolero, ou mesmo forró, samba de gafieira e salsa, mais comuns na cidade. Bela não para ser o único homem a saber dançar e aproveitar de todas as meninas, mas pela arte do encanto, do encantar, pelo prazer em acertar, em entender um mundo diferente do que estamos acostumados.
Dancei uma tarde, no ano passado, assim, de repente; durante um intervalo dos ensaios, alguém colocou My Girl de The Temptations – aquela música do filme “meu primeiro amor” – Foi com a mesma garota que quase se tornou minha parceira de danças aulas. A mesma que, no final do ano passado, em seu aniversário, fui escrever alguma mensagem em seu facebook e me dei conta de como ela possuía a rara combinação de beleza, inteligência, ser divertida, humilde e cativante – curioso que no último final de semana assistia a um filme em que esta era mais ou menos a frase que o protagonista dizia a sua esposa, só agora me dei conta disso.
Com essa mesma garota, passei algumas noites, dias inteiros, mesmo madrugadas a ensaiarmos para a apresentação ocorrida em setembro, há umas duas semanas e meia. Estava quase todo o grupo, mas como a peça era formada de muitas cenas individuais, fiquei a ensaiar com ela nas salas ao lado.
E ela dançava, livre, opunha-se aos demais personagens da peça, pessoas que não se tocavam, que ficavam imersas, mergulhadas em um sistema de egoísmo e consumismo, o qual a peça criticava. Ela dançava, bela, com suas roupas finas e leves.
Em um ensaio, um spot de luz acendeu antecipadamente sobre nós, ficamos – eu, pelo menos – imóveis, como quem é pego no flagra fazendo alguma coisa que não poderia ser vista.
Esse é parte do contexto da história que venho contar, uma parte bem pequena, muito resumida, sem citar o coração de papel que a entreguei na madrugada,  as conversas que tivemos em seu carro na volta dos ensaios – mesmo que eu morasse a poucos metros dali, no alojamento da universidade – do que falamos e nos conhecemos... Do que gostamos falarei um pouco e então prossigo a contar.
Gosto de filmes, de histórias de filmes, de cenários de filmes, de quando as coisas em nossa vida acontecem como nos filmes; como aqui na universidade, quando chovem flores e estamos a caminhar, quando faz frio e usamos casacos, quando vencemos, quando vemos o trem, quando viajamos e olhamos o horizonte pelo caminho. Ela gosta da lua, de ver a lua em sua pequena cidade do interior, onde as nuvens não refletem as luzes de uma grande cidade, deixando o céu escuro, misterioso e encantador.
Apresentamos então a peça, fomos muito parabenizados, embora eu estivesse pessimista devido ao pouco tempo de ensaios e de, particularmente, estar cheio de afazeres na graduação e meu personagem não ser tão engraçado como o do ano anterior.
Atendi seu telefone quando sua mãe ligou, sentia-me mais próximo e apaixonado. Gostaria de dizer, de beijá-la, tive a paciência correta.
De lá fui fazer minhas malas e os encontrei – o grupo – mais tarde na lanchonete. Partiria pela madrugada em direção à capital, para minha primeira dinâmica de grupo em processo seletivo de estágio. Então esperaria acordado, porém ainda era cedo quando deixaram a lanchonete, exceto ela, eu e seus amigos. E, então, foram também, fiz questão de que não precisariam me esperar.
Fui à capital, sozinho, mas um amigo me encontraria para levar-me da estação ao prédio. Metrô, bairros nobres, prédios, roupa social, café, vitamina, dinâmica de grupo, metrô, foto no MASP, depois lanche e outra vitamina, metrô, casa.
No domingo ela me escreveu, em meu mural no facebook, uma apresentação, como seria minha apresentação em uma empresa, um enorme parágrafo de elogios. Não soube como responder, disse que o faria pessoalmente e, após outro ensaio em uma noite, conversamos por certo tempo, poderíamos ter nos despedido com um beijo, não tomei a iniciativa.
No outro dia, mais uma vez partira eu rumo à capital, outra dinâmica, em bairro próximo ao de sete dias antes. Camisa emprestada, deixara as minhas em casa e o convite fora de repente. Desta vez fui com um amigo que também participara da dinâmica, aliás, muito mais organizada, onde tivemos muito mais liberdade e muito podemos aprender. Café, foto, almoço no shopping, trem, metrôs – em um deles, a campainha soou enquanto meu amigo estava na porta, puxei-o um instante antes da porta fechar. Mais um dia na capital com histórias a se contar.
Retorno, fim de semana em casa, visita à empresa de meu pai no dia da família, que começara com uma palestra sobre conhecer uns aos outros, auto-estima ou... bem, o dia começara antes, era dia de eleição, decepção com os rumos políticos de uma cidade que, embora grande e supostamente desenvolvida, está marcada desde sempre pelo coronelismo. Uma revolta que me desviava a atenção quando tentava fazer outras coisas, mesmo estudar na segunda-feira na faculdade.
Já à noite recebo novo convite, agora uma entrevista de emprego. Estava certo que na terça iria a uma dinâmica em Jundiaí, porém este novo convite me faria retornar à minha cidade, em um hotel próximo à prefeitura. Sempre gostei de andar pelo centro, principalmente quando chega o natal ou quando fica aquele clima londrino, nublado. Desta vez, seria um prazer diferente, passear pelo centro em roupas sociais, desfilar posso dizer. Nessa terça-feira, ontem, havia na praça central um ônibus do Menina Fantástica e uma fila de garotas que sonham no futuro serem modelos.
Primeiro tomei um sorvete com meu amigo e contei a ele sobre o que acontecera na noite anterior. Ele ficou feliz, disse que sentia até mais feliz do que se tivesse sido com ele. Interessante dizer isso, pois o dia prometia um paradoxo. Eu e meu amigo, em nossa cidade, disputando a uma única vaga de emprego, eu, meu amigo e umas cinco pessoas com currículos inferiores. Meu amigo, dono da maior nota do curso e de um dos melhores, talvez o melhor, currículo de nossa engenharia entre as pessoas com quem convivo. Meu amigo, que namora uma garota que eu apresentei e que um dia eu mesmo pensei em namorar. E ele ficou feliz pelo que contei sobre a noite anterior, eu ensinei onde ficava a sorveteria, meu amigo.
Da sorveteria voltei ao centro, entrei na catedral, agradeci, olhando para a imagem no vitral, como costumo fazer quando entro lá. Observei a beleza da catedral e as palavras em latim, imaginando o que poderiam significar. De lá fui ao antigo hotel, hoje centro cultural, com exposições e, nesta semana, oficinas de instrumentos musicais. A flauta, a flauta era a que mais me chamava a atenção. Assim, digo agora o que então ocorrera na noite de segunda-feira.
Estava diante um paradoxo, participar de uma dinâmica em uma multinacional em Jundiaí ou retornar a Ribeirão e disputar uma vaga única com o cara com a melhor nota da sala, várias iniciações científicas e vários títulos e prêmios acadêmicos? Ribeirão, a mesma Ribeirão pela qual sou apaixonado, mas que teimava em eleger os mesmos políticos a décadas, a mesma Ribeirão que me expulsara de seu grupo no facebook nessa mesma segunda-feira, feito ditadura, após eu demonstrar sutilmente minha insatisfação com o resultado das eleições.
Não tenho aulas às quintas; sexta é feriado, dia das crianças e de N.Sra Aparecida (interessante, agora lembro que na terça eu explicava para minha mãe como se abreviava N.Sra, após ter pesquisado na internet; porém ainda não salvei no computador de casa umas fotos que ela me pediu, apenas aqui no note e no pendrive). Assim, parecia não haver prejuízo se eu voltasse para casa e por lá ficasse durante toda a semana. A questão era, ia na segunda mesmo ou esperava pela manhã de terça-feira. Mais uma vez, tive a paciência correta.
Estaria a garota a fim de mim? De mim? Logo de mim que nunca tive namorada? Quem nunca havia beijado além de três beijos de despedida há três anos, porém totalmente mal feitos, pois errei ao seguir o conselho de um amigo sobre como se beijaria. Mas realmente a fim de mim? Curioso é o destino. A palestra na empresa no domingo havia sido de auto-estima, contive-me em minha educação, em meu interesse pelo lugar e em meu estranhamento sobre o tema, esperava uma apresentação da empresa, não questões morais. Porém é como aprendemos no teatro, alguém apresenta algo, não criticamos, não julgamos, aceitamos a ocasião, aceitamos a coragem em apresentar, aceitamos a dedicação.
Se eu voltasse para casa, seria por uma semana, muito tempo para um engenheiro que vive seus anos de graduação resolvendo grandes problemas todo tempo, velozmente, pois dezenas, centenas de outras questões aparecem todo momento.
Fui então até uma das bibliotecas da universidade, onde passei uma manhã a tirar dúvidas de física para a prova de mestrado da garota. Raramente frequento a biblioteca da física; utilizo a da engenharia, por ser do curso e, às vezes a da química, por ser mais perto. Resolvi ir até lá, queria a encontrar e a encontrei, estudando.
Disse que fui fazer uma visita, discutimos alguma coisa de física, ela me disse que esperava por um rapaz, um doutorando em física, que lhe daria aulas particulares do tema. Foi a segunda vez que senti ciúmes; mas logo ela disse que era pago e entendi que o professor estaria lá para dar aulas. Ciúmes mesmo foi em outro instante, ao final da peça naquela outra noite, ela me disse parabéns, eu respondi com um abraço, não tão forte como de um homem que aparecera depois, mais alto, mais velho, mais forte; mais íntimo, pensei. A felicidade me veio quando comentou no encontro da semana passada, no qual discutíamos sobre as impressões causadas pela peça, que o namorado de uma amiga lhe viera retribuir o abraço – que a personagem dela dava no público. O namorado de uma amiga, então entendi.
A aula seria das 19h às 21h. Anotei seu telefone, enviei uma mensagem às 19h25min, uma mensagem bem curta, citando um lugar e um horário, 21h30min, comer açaí – o açaí foi ideia de outro amigo, um dos dois com quem me reunia na biblioteca da engenharia para fazermos um trabalho que deveria ser entregue na manhã seguinte, terça-feira. Ele é um amigo sábio, já devo ter escrito algumas vezes sobre ele, sobre eles, aqui no blog.
Fui tomar banho, enviaria o trabalho por e-mail e entregariam para mim. Ela respondeu às 21h08min, depois deu ter atendido rapidamente ao telefone quando um amigo – o mesmo que me foi comigo a São Paulo – dissera ter sido chamado a uma dinâmica – na mesma Jundiaí que deixei de ir na terça-feira, ontem.
21h08min: NOME, vc foi pro top a¿ai??
21h09min: Não ainda, mas me dirijo à rodoviária ali perto.
21h10min: Vc partir¿ q hras??!
21h11min: Amanhã só. Está com fome?
Eu ainda estava na faculdade, virei, passei pela praça, voltei à biblioteca. Ela se encontrava em outro lugar, em uma sala de vidro, passei atrás dela e a vi com o celular. Digitou alguma coisa, estava respondendo a mim.  Porém a vi aquando apagou a mensagem e começou a reescrever. Estaria em dúvida? As mulheres perfeitas também seriam meninas quando sozinhas? Também não sabem o que dizer?
Saí para que não me visse, esperei com o celular na mão do outro lado da parede – que não é de alvenaria, mas aquela repartição. Ela demorou para responder, ou estariam os segundos durando horas? Decidi entrar na sala, ela estava com fome, quis terminar de ler uns tópicos antes de ir; enquanto eu li a prova de um ano anterior.
Fomos ao açaí, pedi um sabor diferente para que ela pudesse experimentar, conversamos sobre muitos assuntos, saímos pouco antes do estabelecimento fechar. Voltamos a seu carro e ela me deixou na porta do alojamento da universidade, enquanto o rádio sugeria músicas românticas e outras músicas também.
Não me recordo de quem se referiu primeiro à lua, ela, ela quis ver a lua e eu disse ter descoberto um lugar em que desse para vê-la como no sítio, o campus da universidade vizinha, onde ela estuda. Era madrugada, mas fomos para lá. E então sentamos na grama – na segunda tentativa, depois do formigueiro da primeira – próximos a uma mata e a um prédio didático.  A lua não estava lá – ela disse que há alguns dias não a encontrava – mas havia estrelas, a grama, ela e eu. Conversamos ainda sobre muitas coisas e, após um pequeno silêncio, eu perguntei: “sabe do que tenho medo?”. Tinha medo de me declarar e então não podermos mais sentar na grama em uma madrugada, sem recordar uma recusa e viver em um clima túrbido. Disse que tinha medo de dizer que estava a fim dela.
Ela iniciou sua resposta, sua primeira palavra me trouxe à mente o início daquele modo educado de se dizer não, de dizer que somos apenas amigos. Acho que sua segunda palavra também; porém ela me surpreendeu, disse também estar a fim de mim.
E agora? Então nos beijamos, ela me ensinou a beijar, e deitou-se em meu ombro, ficamos por horas pela madrugada. Tinha meu trabalho a entregar, e ela sua prova, mas nada mais importava, nada que não fosse no plural, no nós.
                Outros minutos, hora – não sei ao certo, para mim pareceram dias – passou-se entre os bancos da frente de seu carro quando me deixara no alojamento e nos beijávamos.
                Passou-se a terça-feira. Amigo, lembranças, entrevista, hotel, catedral, centro cultural, casa, família...  Não a liguei no dia seguinte, porém deixei uma mensagem subliminar no recado que enviei ao grupo de teatro, avisando que me ausentaria esta semana – em resposta ao e-mail dela, que não frequentaria esta semana, pois a prova do mestrado se aproximava. À noite decidi aprender a tocar a flauta que minha avó me dera, há um ótimo professor no youtube. Também decidi retornar a São Carlos e para cá vim hoje pela manhã. Ela toca flauta.
                Hoje tive apenas uma aula, o professor faltara da segunda. Ou devo dizer ter tido duas, caso conte a aula de dança. Procurei por ela na biblioteca três vezes ao longo do dia. Na primeira ocasião, levava uma trufa de morango, que ficara em meu bolso até após o almoço, quando eu já constatara que havia derretido. A parte engraçada é ter guardado o celular no mesmo bolso.
                Na segunda tentativa eu ficaria a estudar por lá, porém meu touchpad decidiu não funcionar e retornei à biblioteca da engenharia. Na terceira tentativa, encontrei seu carro e agi rapidamente, num plano de repente, talvez genial, talvez não.
                Voltei à engenharia, liguei o computador, encaminhei para meu e-mail a partitura de uma música romântica que conheço, cuja banda por ela foi curtida no facebook. Fui ao xérox em uma das saídas do campus, imprimi, retirei o título e voltei para o alojamento.
                Lá, ainda em dúvida se eu deveria fazer o que planejava, procurei por uma fita adesiva – a essa hora a papelaria já deveria estar fechada – e, então, dentro de meu guarda-roupas, avistei aquele porta canetas e porta clipes que havia comprado e ainda não aberto, era embalado por uma folha plástica decorada e amarrada por uma fita de cetim, já com as pontas enroladas, em uma cor próxima ao rosa e ao bege.
                Enrolei as folhas da partitura no cetim e, para não ser visto com elas no campus e não amassá-las, guardei onde guardo a flauta que minha avó me dera. Atravessei o campus, temia não encontrar seu carro após ver algumas vagas livres. Então avistei, retirei as duas folhas da bainha da flauta, com certa dificuldade, pois o papel ficara preso por alguns instantes. Amarrei o cetim no limpador de parabrisas com as folhas enroladas e agora me encontro a contar essa história para jamais esquecer esses dias em que, como disse meu amigo na sorveteria, as coisas parecem ir tomando seu rumo e darem certo, complemento dizendo que são dias em que estou em diversos cenários, com diversas histórias, como  nos filmes, como enxergo a vida, que acontece como eu desejo.
                Abrir mão de uma vaga de emprego torna-se mais prazeroso que a conquistar, é sinal de maturidade, além disso, há uma chuva de oportunidades. Passear em São Paulo, entrar na Catedral – há um bom tempo não vou a uma missa – maravilhar-me com o centro cultural, as ruas do centro, as ruas do bairro, dirigir pela cidade, aulas, pesquisas, provas, apresentação teatral, dança, contar boas notícias, comer açaí, compartilhar açaí, olhar para o céu noturno sentados na grama, beijos no carro, braços, pescoço, rosto, boca, tocar pessoas, amar, fazer alguém feliz...



    Programo o blog para publicar este texto daqui há alguns dias, vou esperar o que vai acontecer antes de contar a notícia...



     Bem, hoje é 30 de novembro, volto ao texto, não o reli ainda, mas vim publicá-lo no blog...





























O Poema do Engenheiro


Vejo um filme e um físico viaja no tempo
Ele é brasileiro, João.
Saudades de seu grande amor
Arrependimento, tempo que não volta atrás.
Momentos que não voltam atrás
Engenheiro, profissional sem juventude
A aventura é correr atrás de um ônibus um dia
Ser parado por um policial em outro
e-mails de estágio, projetos de IC, estudos de CNC...
uma caloura até parece se interessar em uma madrugada na arquitetura
algo lógico, diferentemente dos sonhos
Um tempo livre, a seleção treina e o engenheiro assiste sozinho na multidão
Leva uma bolada até e se sente feliz por isso, torcia por isso
Seu time joga, mas não é campeão desde os gloriosos tempos do ensino médio
Sozinho em um cinema, andar pela cidade
Esses são dias felizes ao engenheiro
Noutros, acorda incerto do horário e da confiabilidade no despertador
Pode ser 3 da manhã, seu coração dispara no medo de perder a prova
De repente, são 3h15min, acorda novamente em desespero
6h30min, acorda antes do celular despertar
O engenheiro não sabe aonde vai
Estágio, mestrado, outra cidade, outro país
Não sabe onde estará ou se alguém deixará ainda que não queira
Defende a vida, defende a terra, defende a nação
E o som de seu brado é o metal que tine
O assobio é o metal forjado em água
Dizia aquele empresário: se dinheiro fosse sua única esperança, jamais teria independência.
Sua segurança é sabedoria, experiência, competência...
Conhece o mundo, conhece a natureza e tenta compreendê-los
E não é fácil
E nem mesmo se compreende
Conhece as incertezas e tenta solucioná-las
Não se distancia dos artigos, apenas se distrai
Em um dia chuvoso, porém, procura o que gosta de fazer
Bolinhos de chuva, desenho animado, pensar naquela garota...
O engenheiro tenta reencontrar o passado,
Imaginar, engenheirar uma vida de onde a deixou
Se pudesse voltar, mas não seria mais ele
Com seus deveres, pois é capaz de mudar o mundo, então deve melhorar o mundo,
Pois, como disse o senhor, a quem muito é dado, muito será cobrado,
Mas nem é por temor, é por saber de seu dever e de seus desejos
Engenheirar o bem, engenheiro, engenheira, engenharia...
Também pensa no futuro e no distante,
Mecânica quântica, os segredos do universo,
As probabilidades,
As distorções nas leis,
As leis incompreensíveis,
O espírito,
A política,
A filosofia,
A sociologia,
As noites de sábado no observatório,
As tardes nos laboratórios,
Desenha, projeta, dimensiona, analisa, controla
Empreende, planeja, lidera,
lê as curvas dos fluidos e os códigos de computador
Sente o calor
Mas é tão estranho escrever um poema sem falar de amor
O engenheiro ama,
tanto que se perde em sua metrologia,
funções tendem e passam do infinito
integram, entregam,
ama a criação Dele, ama suas adaptações
ama o mundo e é pelo mundo que engenha,
ama pessoas, mesmo que se distancie
ama uma garota que decepcionou
quem, de repente, já é mulher
e vive feliz com outro alguém
a maior honra do engenheiro é seu respeito
soluços são engolidos ao dizer sua profissão
é difícil lidarem com o que o engenheiro faz,
é difícil chegar onde ele chega
nem o engenheiro se sente engenheiro,
pois a natureza é ainda mais complexa
a ponto de ensiná-lo a ser humilde
e assim ele vai,
com o escudo de Minerva,
sob uma oliveira em flor,
um pinheiro ou um ipê,
engenhando o mundo
resolvendo cada detalhe
tentando melhorar,
parando com os gerúndios no poema,
a fim de um mundo mais belo
e funcional
como conseguir engenhar
e aprende o que ainda não consegue
como engenhar um poema
e escrever uma bela continuação

Sentir o calor de um coração


No pesadelo monstros nos seguiam e fugíamos, toda a população, em busca de um lugar seguro, um cômodo sem portas ou janelas que nos pudesse proteger do perigo lá fora, mas os monstros adentravam vários locais e não podíamos lutar. Meu amigo, onde ele se perdeu que ainda não nos encontrou? E aquele homem na varanda, por que não vem conosco em busca de muralhas mais resistentes que seu toldo de lona?
Lembro-me daquele mesmo cenário de vários sonhos, aquele vestiário enorme e ermo em meio ao bosque, campo de golf, de festas ou clube de acampamento e aquela casa cheia de passagens secretas pelo sótão, cenários desde a infância ou cenários de outras vidas.
                Havia um abrigo através do instituto de física e lá a maioria tentava chegar, seria suficiente?
                Agora venta, já deve começar a chuva, ouço barulho na rua, tocam aquelas pedras penduradas nas vigas, cujo nome não recordo. Começa a chover, é o cheiro da chuva, mas o som do encanamento da caixa d’água. Finalmente um veículo na rua, uma moto cujo som se prolonga por vários metros. O portão se agita com o vento, as pedras continuam a cantar.
                Domingo de páscoa, fui surpreendido pela sensação de amor familiar, visitas, bastante comida, boa comida, sobremesas, jogo na TV, filmes, seriado... Filme à tarde, com Jackie Chan, filme à noite, Agentes do Destino, um pouco de Matrix com Cidade dos Anjos e aquela sensação de fuga, quase como no sonho. Também ouvi música, Bon Jovi e Evanescence, pesquisei sobre relógios e outros mecanismos e tentei nas redes sociais preencher um vazio que não conseguia explicar.
Anteontem, ouvia antigos cantores de rádio por talvez hora antes de dormir. Ontem, duas obras que ensinam o que é ser engenheiro, um texto de um aluno que desistiu no penúltimo ano depois de uma adolescência nerd e decepções em vários aspectos na principal universidade do continente. A outra obra, ou o outro ensinamento, vem de um garoto, no filme A Invenção de Hugo Cabret. Fantasia, aventura, magia, preciso disso para me sentir feliz.
Um tempo de indecisão, de olhar que se já se tem história no passado, mas sentir medo de como ela será no futuro, medo dos custos das conquistas. Procuro por cômodos que nos defendam dos monstros que nem ao certo conhecemos o rosto, mas sabemos que a outros já aterrorizaram.
Um calor, um abraço, apaixonar-se, estar com alguém que nos aqueça e a quem possamos aquecer. Na minha família somos fortes, meu quarto me protege do vento lá fora, a união nos defende dos monstros. Assim não se troca uma vida de êxitos individuais em terras distantes, pela felicidade de casa.
Outrossim busco me apaixonar por ela. Ela quem? O grande amor da infância? Aquela cujos ideais e tarefas se assemelham com os meus? A garota de gostos extremos, frescos e ideais contrários? Aquela que eu possa abraçar e sentir o calor de seu coração.
                Abraçar para deixar de sentir medo, para sentir serenidade. Às vezes (muitas, muitas mesmo) estamos preocupados com estudo, trabalhos, deveres enfim, sentimos um vazio, uma vontade de um mundo diferente e, em um domingo de páscoa, descobrimos que este mundo que parece distante é, na verdade, um mundo que deixamos, assistir a filmes em uma tarde, seu time ganhar, sentir o cheiro da chuva sobre o edredom, observar o mecanismo de um relógio, abraçar alguém que ama...
    Posto o texto no blog, sabe, se deletar não tem efeito, então volte.


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