Na Avenida Lisir Eva...

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La Délicatesse

Chove, é novembro, 17.

Toco nas teclas feito em máquina de datilografar

Dois enters,

Na sala da república assisto a um filme no computador, um romance, Nathalie e Markus

Hoje de manhã tive de adiar minhas férias, projetos atrasados.

Hoje à tarde, novamente o facebook sugeriu que eu marcasse Marcos em minhas fotos

Em uma cena do filme, é dito que Nathalie é o tipo de mulher que anula todas as outras, bem como meu pensamento funciona, pois, aconteça o que acontecer ao longo dos anos, por mais que pareça  que tenhamos nos apaixonado por alguém, tudo muda a qualquer lembrança dela.

O evento será no kartódromo em São Carlos; que não funciona como kartódromo, andei de kart pela primeira vez há duas semanas, misturo assuntos, há tanto a contar...

O filme se passa na França; Markus é suéco; estive na Suécia, França, estive em muitos lugares nesses anos sem escrever
Entra um rapaz cantando na república, antes tocava seu violão; lembrou-me Raul
sem escrever em português, sem escrever poemas
deixe-me lembrar as pérolas naquele tempo ostral,
deixe-me achá-las pela memória,
então virá o Natal, estarei livre novamente,
e as pedras brilharão
estive na Holanda, vi pedras que brilhavam; mas por mais belas, não as sentia;
mas sinto o natal se aproximar e voltarei a ser eu

O filme se aproxima do final, é impressionante: o segundo nome de Nathalie é Kerr.
Uma noite em Paris é uma noite mágica, pra lá vai meu pensamento, lembrando da noite em que eu e uma garota russa corríamos atrás do metrô; antes eu conversava com uma adolescente francesa sobre sentir, ali, numa noite estrelada na praça que leva à Torre Eiffel.
Quando mais novo eu passava um tempo em uma árvore no clube do SESI aguardando minha irmã na natação, hoje há um teatro onde havia aquela árvore.


"Foi nesse local, no coração de todos essas Nathalies... que eu decidi esconder."

As ruas do distrito

   Frio de rigoroso inverno. Um coral de crianças na casa do lago, acho que a canção era em italiano. Mas bem diferente da “Tarantella” que tocava em versão completa quando tomei a carona rumo ao trabalho pela manhã.
   Meu trabalho lá é criar, solucionar, imaginar, ajudar, não tomemos tempo discutindo as melhores palavras para este parágrafo, deixemos esta discussão para depois. Vamos à noite.
   Noite. Folhas caídas e espalhadas, deixamos o campus para o distrito. O que fiz no que restou da tarde foi pensar. Janto e, na saída, recordo que haverá apresentação na casa do lago. Uma casa, de tijolos, próxima a um lago, deixo a você imaginá-la.
   Foi a primeira vez que me encontro com um palco desde que um grande filósofo esteve na feira do livro em minha cidade natal. Todavia, lá me encontrei foi com o theatro, com ideias, com amigos... Foi hoje a primeira vez que me reencontro com um palco desde que os palcos deixaram de ser parte de minha vida.
   A peça era sobre amor, entre um escritor que amou até o limite da loucura e uma louca – ou psico alguma coisa, saberia definir alguém da área.
   Poucas pessoas na plateia, talvez fosse o frio, a cultura do país, o deserto... Desertas, as ruas vazias do distrito. A menos pelos carros com luzes a piscar em silêncio, como um exército a verificar o cumprimento de um toque de recolher.
   Minha mãe me fala ao telefone, elas sempre sabem onde estamos. Ela diz para evitar passar pelas mesmas ruas nos mesmos horários, o distrito é violento. Mas para onde foi o “vem pra rua”, lema nacional deste ano se nas ruas de suas casas não se arriscam a andar e sentir o raro inverno?
   E naquela esquina em especial, recordo de uma das poucas músicas que realmente sei cantar inteira. Daqueles versos “E ajeitava o meu caminho pra encostar no teu”. As outras fico a assobiar enquanto minhas mãos tocam instrumentos invisíveis, geralmente de sopro ou teclas.
   E foi assim, ao escolher um trajeto novo, quis o destino que eu encontrasse uma outra casa, entre a dela e a minha república, que me será muito importante em um futuro próximo.

Uma nova jornada


                Sabe aquela sensação de voltar para casa após sete anos? Não, talvez não a conheça, mas talvez a consiga imaginar. Quando entrei na faculdade, ou talvez antes disso, passei a consentir que vivia no futuro, afinal, a pergunta na infância era: “o que quer ser quando crescer?”. E então andava pelas ruas do futuro, com carros mais modernos que os daquele tempo, com wi-fi, computadores, facebook, vida universitária em uma universidade de primeiro mundo e tantos detalhes que me fazia sentir no futuro do passado.
                Esta semana fiz duas apresentações em um painel de processo seletivo de estágio; em uma delas, apresentação pessoal, disse estar em um período de transição rumo a uma nova jornada, sem abandonar todo o trajeto vivido até aqui. Acontece que percebo agora que esta transição é mais do que apenas uma mudança de cidade. Estamos em dezembro e já entreguei meu último trabalho da graduação neste semestre; para a formatura, é preciso cursar uma disciplina, concluir o TCC, uma iniciação científica e as horas de estágio, assuntos que são candidatos a se tornarem prioridades a partir deste dezembro. Dizia – e digo – que assim que acabasse essa correria da graduação em tempo integral eu voltaria a fazer algumas atividades de que tenho vontade, como aulas de inglês, tocar violão, flauta, talvez violino, aprender mais sobre o espiritismo, quem sabe participar mais ativamente, usar parte do dinheiro do estágio em projetos sociais, mesmo que seja presenteando crianças nas ruas, reformar a casa e voltar para a academia a fim de ficar um pouco mais fortinho para a namorada. A ideia era essa, ainda é, eu voltaria para a cidade da faculdade aos finais de semana para vê-la; às segundas terei aula e cuidarei das partes práticas do TCC e entre terça e quinta faria estágio em terra natal. No entanto ela disse que não era amor e, embora seja a melhor garota que eu conhecera nesses últimos anos, ou quem sabe na vida; de fato, eu não passava os dias em transe, sem me concentrar em qualquer outra coisa; porém concebia o encanto, imaginava o futuro, imaginava que era preocupação demais com os deveres e que a tranquilidade que viria em breve faria com que ela se tornasse minha prioridade. E quando possível eu inventava o que a poderia surpreender. Faltou sentir a fundo aquela preocupação sobre como ela estaria a cada segundo longe de mim, mas ela viajou ao sul e eu não vejo nenhum problema nisso. Ou seja, faltou a paixonite, aquela pitada de tempero desconhecido e incompreensível, pois, ademais, tudo parecia dar certo e achei que esse modo de amar fosse sinal de amadurecimento. Preciso aprender a diferenciar amadurecimento de falta de paixão.  E mesmo quando ela disse se tratar de amizade, mostrou-se ainda mais próxima da garota perfeita, que ama o mundo e busca o príncipe encantado.
Então volto para casa, não faz sete anos, apenas alguns dias. Mas de repente é como se fosse. Há sete anos eu estava na oitava série, tinha minha avó e nós e toda a família mergulhávamos no espírito de natal. Volto a sentir a presença do natal, volto a andar no centro da cidade pelo natal, retorno ao shopping desde há muito tempo, volto a montar a árvore de natal; minha mãe encontra os pisca-pisca no quartinho dos fundos e ficaremos a nos maravilharmos com as luzes na árvore. Passo o sábado em frente ao notebook e agora, quase madrugada, chego quase ao final do relatório parcial de trabalho de conclusão de curso.  Os dias são quentes, de quentes a insuportáveis, estou no chão do quarto ao lado do ventilador comprado hoje por minha mãe; de repente percebo que é mesmo uma transição, não me parece mais que vivo no futuro, mas como um retorno aos cenários do passado, porém os cenários mudaram, as pessoas mudaram (algumas partiram a outros mundos), mudaram algumas de cidade, algumas a elas mesmas; outras reencontram a felicidade. E volto para casa, pretendo estar de volta em casa agora. Queria ir ver minha garota, quem sabe ainda nos apaixonemos. Férias (férias entre aspas, tenho a iniciação, o TCC e os processos seletivos), rumo ao último ano de graduação, ruma a uma nova jornada, de volta para casa, de volta aos cenários conhecidos, mas como novos cenários, pessoas conhecidas, pessoas amadas e novas pessoas. Feliz dia de Nossa Senhora da Conceição.

Sobre muitas coisas da vida. Vida, dias perfeitos.



Começo a contar esta história em uma tarde de dia útil, foi uma terça ou quarta-feira há algumas semanas, quando caminhava em direção ao bloco de aulas da Engenharia de Produção e ali pela praça no centro da universidade, em um estande fixo de madeira, crianças vendiam porta canetas e clipes e panos de prato, se bem me lembro.
As vendas são destinadas à manutenção de um projeto social do qual essas crianças participam aqui mesmo na universidade, não muito longe de onde me encontro esta noite a escrever este relato. Comprei então um porta canetas e o deixei guardado, ainda fechado, dentro de meu guarda-roupa, em uma folha de plástico transparente decorado.
Então se seguiram os dias, trabalhos escolares, provas, pesquisas para o TCC, iniciação científica e, em especial, destaco nossa apresentação pelo nosso grupo de teatro, cujos ensaios ocorrem no salão cultural do nosso centro acadêmico – embora o grupo não se restrinja a estudantes desta instituição.
Em um dos encontros no semestre passado, falávamos por algum motivo sobre dança e uma garota disse ter vontade de dançar. Então, comentei que ali no centro acadêmico havia cursos de danças, mas eu não participava por não ter um par. Ela lançou o convite e concordei; porém isso foi deixado para depois das férias, que se aproximavam após as corridas semanas de provas de final de semestre.
As aulas voltaram em agosto, neste mês fui com um amigo a uma festa junina aqui na arquitetura e encontramos com o pessoal do teatro, donde formamos dois casais para as aulas de dança de salão. Foi que minha parceira teve de faltar – após um pedido de desculpas – e meu amigo desistiu do curso, pois era no horário de almoço. Deste modo, aconteceu de eu trocar definitivamente de par para a aula de dança.
Dança é uma bela arte, mais belas são as danças circulares e as de casais, como valsa, bolero, ou mesmo forró, samba de gafieira e salsa, mais comuns na cidade. Bela não para ser o único homem a saber dançar e aproveitar de todas as meninas, mas pela arte do encanto, do encantar, pelo prazer em acertar, em entender um mundo diferente do que estamos acostumados.
Dancei uma tarde, no ano passado, assim, de repente; durante um intervalo dos ensaios, alguém colocou My Girl de The Temptations – aquela música do filme “meu primeiro amor” – Foi com a mesma garota que quase se tornou minha parceira de danças aulas. A mesma que, no final do ano passado, em seu aniversário, fui escrever alguma mensagem em seu facebook e me dei conta de como ela possuía a rara combinação de beleza, inteligência, ser divertida, humilde e cativante – curioso que no último final de semana assistia a um filme em que esta era mais ou menos a frase que o protagonista dizia a sua esposa, só agora me dei conta disso.
Com essa mesma garota, passei algumas noites, dias inteiros, mesmo madrugadas a ensaiarmos para a apresentação ocorrida em setembro, há umas duas semanas e meia. Estava quase todo o grupo, mas como a peça era formada de muitas cenas individuais, fiquei a ensaiar com ela nas salas ao lado.
E ela dançava, livre, opunha-se aos demais personagens da peça, pessoas que não se tocavam, que ficavam imersas, mergulhadas em um sistema de egoísmo e consumismo, o qual a peça criticava. Ela dançava, bela, com suas roupas finas e leves.
Em um ensaio, um spot de luz acendeu antecipadamente sobre nós, ficamos – eu, pelo menos – imóveis, como quem é pego no flagra fazendo alguma coisa que não poderia ser vista.
Esse é parte do contexto da história que venho contar, uma parte bem pequena, muito resumida, sem citar o coração de papel que a entreguei na madrugada,  as conversas que tivemos em seu carro na volta dos ensaios – mesmo que eu morasse a poucos metros dali, no alojamento da universidade – do que falamos e nos conhecemos... Do que gostamos falarei um pouco e então prossigo a contar.
Gosto de filmes, de histórias de filmes, de cenários de filmes, de quando as coisas em nossa vida acontecem como nos filmes; como aqui na universidade, quando chovem flores e estamos a caminhar, quando faz frio e usamos casacos, quando vencemos, quando vemos o trem, quando viajamos e olhamos o horizonte pelo caminho. Ela gosta da lua, de ver a lua em sua pequena cidade do interior, onde as nuvens não refletem as luzes de uma grande cidade, deixando o céu escuro, misterioso e encantador.
Apresentamos então a peça, fomos muito parabenizados, embora eu estivesse pessimista devido ao pouco tempo de ensaios e de, particularmente, estar cheio de afazeres na graduação e meu personagem não ser tão engraçado como o do ano anterior.
Atendi seu telefone quando sua mãe ligou, sentia-me mais próximo e apaixonado. Gostaria de dizer, de beijá-la, tive a paciência correta.
De lá fui fazer minhas malas e os encontrei – o grupo – mais tarde na lanchonete. Partiria pela madrugada em direção à capital, para minha primeira dinâmica de grupo em processo seletivo de estágio. Então esperaria acordado, porém ainda era cedo quando deixaram a lanchonete, exceto ela, eu e seus amigos. E, então, foram também, fiz questão de que não precisariam me esperar.
Fui à capital, sozinho, mas um amigo me encontraria para levar-me da estação ao prédio. Metrô, bairros nobres, prédios, roupa social, café, vitamina, dinâmica de grupo, metrô, foto no MASP, depois lanche e outra vitamina, metrô, casa.
No domingo ela me escreveu, em meu mural no facebook, uma apresentação, como seria minha apresentação em uma empresa, um enorme parágrafo de elogios. Não soube como responder, disse que o faria pessoalmente e, após outro ensaio em uma noite, conversamos por certo tempo, poderíamos ter nos despedido com um beijo, não tomei a iniciativa.
No outro dia, mais uma vez partira eu rumo à capital, outra dinâmica, em bairro próximo ao de sete dias antes. Camisa emprestada, deixara as minhas em casa e o convite fora de repente. Desta vez fui com um amigo que também participara da dinâmica, aliás, muito mais organizada, onde tivemos muito mais liberdade e muito podemos aprender. Café, foto, almoço no shopping, trem, metrôs – em um deles, a campainha soou enquanto meu amigo estava na porta, puxei-o um instante antes da porta fechar. Mais um dia na capital com histórias a se contar.
Retorno, fim de semana em casa, visita à empresa de meu pai no dia da família, que começara com uma palestra sobre conhecer uns aos outros, auto-estima ou... bem, o dia começara antes, era dia de eleição, decepção com os rumos políticos de uma cidade que, embora grande e supostamente desenvolvida, está marcada desde sempre pelo coronelismo. Uma revolta que me desviava a atenção quando tentava fazer outras coisas, mesmo estudar na segunda-feira na faculdade.
Já à noite recebo novo convite, agora uma entrevista de emprego. Estava certo que na terça iria a uma dinâmica em Jundiaí, porém este novo convite me faria retornar à minha cidade, em um hotel próximo à prefeitura. Sempre gostei de andar pelo centro, principalmente quando chega o natal ou quando fica aquele clima londrino, nublado. Desta vez, seria um prazer diferente, passear pelo centro em roupas sociais, desfilar posso dizer. Nessa terça-feira, ontem, havia na praça central um ônibus do Menina Fantástica e uma fila de garotas que sonham no futuro serem modelos.
Primeiro tomei um sorvete com meu amigo e contei a ele sobre o que acontecera na noite anterior. Ele ficou feliz, disse que sentia até mais feliz do que se tivesse sido com ele. Interessante dizer isso, pois o dia prometia um paradoxo. Eu e meu amigo, em nossa cidade, disputando a uma única vaga de emprego, eu, meu amigo e umas cinco pessoas com currículos inferiores. Meu amigo, dono da maior nota do curso e de um dos melhores, talvez o melhor, currículo de nossa engenharia entre as pessoas com quem convivo. Meu amigo, que namora uma garota que eu apresentei e que um dia eu mesmo pensei em namorar. E ele ficou feliz pelo que contei sobre a noite anterior, eu ensinei onde ficava a sorveteria, meu amigo.
Da sorveteria voltei ao centro, entrei na catedral, agradeci, olhando para a imagem no vitral, como costumo fazer quando entro lá. Observei a beleza da catedral e as palavras em latim, imaginando o que poderiam significar. De lá fui ao antigo hotel, hoje centro cultural, com exposições e, nesta semana, oficinas de instrumentos musicais. A flauta, a flauta era a que mais me chamava a atenção. Assim, digo agora o que então ocorrera na noite de segunda-feira.
Estava diante um paradoxo, participar de uma dinâmica em uma multinacional em Jundiaí ou retornar a Ribeirão e disputar uma vaga única com o cara com a melhor nota da sala, várias iniciações científicas e vários títulos e prêmios acadêmicos? Ribeirão, a mesma Ribeirão pela qual sou apaixonado, mas que teimava em eleger os mesmos políticos a décadas, a mesma Ribeirão que me expulsara de seu grupo no facebook nessa mesma segunda-feira, feito ditadura, após eu demonstrar sutilmente minha insatisfação com o resultado das eleições.
Não tenho aulas às quintas; sexta é feriado, dia das crianças e de N.Sra Aparecida (interessante, agora lembro que na terça eu explicava para minha mãe como se abreviava N.Sra, após ter pesquisado na internet; porém ainda não salvei no computador de casa umas fotos que ela me pediu, apenas aqui no note e no pendrive). Assim, parecia não haver prejuízo se eu voltasse para casa e por lá ficasse durante toda a semana. A questão era, ia na segunda mesmo ou esperava pela manhã de terça-feira. Mais uma vez, tive a paciência correta.
Estaria a garota a fim de mim? De mim? Logo de mim que nunca tive namorada? Quem nunca havia beijado além de três beijos de despedida há três anos, porém totalmente mal feitos, pois errei ao seguir o conselho de um amigo sobre como se beijaria. Mas realmente a fim de mim? Curioso é o destino. A palestra na empresa no domingo havia sido de auto-estima, contive-me em minha educação, em meu interesse pelo lugar e em meu estranhamento sobre o tema, esperava uma apresentação da empresa, não questões morais. Porém é como aprendemos no teatro, alguém apresenta algo, não criticamos, não julgamos, aceitamos a ocasião, aceitamos a coragem em apresentar, aceitamos a dedicação.
Se eu voltasse para casa, seria por uma semana, muito tempo para um engenheiro que vive seus anos de graduação resolvendo grandes problemas todo tempo, velozmente, pois dezenas, centenas de outras questões aparecem todo momento.
Fui então até uma das bibliotecas da universidade, onde passei uma manhã a tirar dúvidas de física para a prova de mestrado da garota. Raramente frequento a biblioteca da física; utilizo a da engenharia, por ser do curso e, às vezes a da química, por ser mais perto. Resolvi ir até lá, queria a encontrar e a encontrei, estudando.
Disse que fui fazer uma visita, discutimos alguma coisa de física, ela me disse que esperava por um rapaz, um doutorando em física, que lhe daria aulas particulares do tema. Foi a segunda vez que senti ciúmes; mas logo ela disse que era pago e entendi que o professor estaria lá para dar aulas. Ciúmes mesmo foi em outro instante, ao final da peça naquela outra noite, ela me disse parabéns, eu respondi com um abraço, não tão forte como de um homem que aparecera depois, mais alto, mais velho, mais forte; mais íntimo, pensei. A felicidade me veio quando comentou no encontro da semana passada, no qual discutíamos sobre as impressões causadas pela peça, que o namorado de uma amiga lhe viera retribuir o abraço – que a personagem dela dava no público. O namorado de uma amiga, então entendi.
A aula seria das 19h às 21h. Anotei seu telefone, enviei uma mensagem às 19h25min, uma mensagem bem curta, citando um lugar e um horário, 21h30min, comer açaí – o açaí foi ideia de outro amigo, um dos dois com quem me reunia na biblioteca da engenharia para fazermos um trabalho que deveria ser entregue na manhã seguinte, terça-feira. Ele é um amigo sábio, já devo ter escrito algumas vezes sobre ele, sobre eles, aqui no blog.
Fui tomar banho, enviaria o trabalho por e-mail e entregariam para mim. Ela respondeu às 21h08min, depois deu ter atendido rapidamente ao telefone quando um amigo – o mesmo que me foi comigo a São Paulo – dissera ter sido chamado a uma dinâmica – na mesma Jundiaí que deixei de ir na terça-feira, ontem.
21h08min: NOME, vc foi pro top a¿ai??
21h09min: Não ainda, mas me dirijo à rodoviária ali perto.
21h10min: Vc partir¿ q hras??!
21h11min: Amanhã só. Está com fome?
Eu ainda estava na faculdade, virei, passei pela praça, voltei à biblioteca. Ela se encontrava em outro lugar, em uma sala de vidro, passei atrás dela e a vi com o celular. Digitou alguma coisa, estava respondendo a mim.  Porém a vi aquando apagou a mensagem e começou a reescrever. Estaria em dúvida? As mulheres perfeitas também seriam meninas quando sozinhas? Também não sabem o que dizer?
Saí para que não me visse, esperei com o celular na mão do outro lado da parede – que não é de alvenaria, mas aquela repartição. Ela demorou para responder, ou estariam os segundos durando horas? Decidi entrar na sala, ela estava com fome, quis terminar de ler uns tópicos antes de ir; enquanto eu li a prova de um ano anterior.
Fomos ao açaí, pedi um sabor diferente para que ela pudesse experimentar, conversamos sobre muitos assuntos, saímos pouco antes do estabelecimento fechar. Voltamos a seu carro e ela me deixou na porta do alojamento da universidade, enquanto o rádio sugeria músicas românticas e outras músicas também.
Não me recordo de quem se referiu primeiro à lua, ela, ela quis ver a lua e eu disse ter descoberto um lugar em que desse para vê-la como no sítio, o campus da universidade vizinha, onde ela estuda. Era madrugada, mas fomos para lá. E então sentamos na grama – na segunda tentativa, depois do formigueiro da primeira – próximos a uma mata e a um prédio didático.  A lua não estava lá – ela disse que há alguns dias não a encontrava – mas havia estrelas, a grama, ela e eu. Conversamos ainda sobre muitas coisas e, após um pequeno silêncio, eu perguntei: “sabe do que tenho medo?”. Tinha medo de me declarar e então não podermos mais sentar na grama em uma madrugada, sem recordar uma recusa e viver em um clima túrbido. Disse que tinha medo de dizer que estava a fim dela.
Ela iniciou sua resposta, sua primeira palavra me trouxe à mente o início daquele modo educado de se dizer não, de dizer que somos apenas amigos. Acho que sua segunda palavra também; porém ela me surpreendeu, disse também estar a fim de mim.
E agora? Então nos beijamos, ela me ensinou a beijar, e deitou-se em meu ombro, ficamos por horas pela madrugada. Tinha meu trabalho a entregar, e ela sua prova, mas nada mais importava, nada que não fosse no plural, no nós.
                Outros minutos, hora – não sei ao certo, para mim pareceram dias – passou-se entre os bancos da frente de seu carro quando me deixara no alojamento e nos beijávamos.
                Passou-se a terça-feira. Amigo, lembranças, entrevista, hotel, catedral, centro cultural, casa, família...  Não a liguei no dia seguinte, porém deixei uma mensagem subliminar no recado que enviei ao grupo de teatro, avisando que me ausentaria esta semana – em resposta ao e-mail dela, que não frequentaria esta semana, pois a prova do mestrado se aproximava. À noite decidi aprender a tocar a flauta que minha avó me dera, há um ótimo professor no youtube. Também decidi retornar a São Carlos e para cá vim hoje pela manhã. Ela toca flauta.
                Hoje tive apenas uma aula, o professor faltara da segunda. Ou devo dizer ter tido duas, caso conte a aula de dança. Procurei por ela na biblioteca três vezes ao longo do dia. Na primeira ocasião, levava uma trufa de morango, que ficara em meu bolso até após o almoço, quando eu já constatara que havia derretido. A parte engraçada é ter guardado o celular no mesmo bolso.
                Na segunda tentativa eu ficaria a estudar por lá, porém meu touchpad decidiu não funcionar e retornei à biblioteca da engenharia. Na terceira tentativa, encontrei seu carro e agi rapidamente, num plano de repente, talvez genial, talvez não.
                Voltei à engenharia, liguei o computador, encaminhei para meu e-mail a partitura de uma música romântica que conheço, cuja banda por ela foi curtida no facebook. Fui ao xérox em uma das saídas do campus, imprimi, retirei o título e voltei para o alojamento.
                Lá, ainda em dúvida se eu deveria fazer o que planejava, procurei por uma fita adesiva – a essa hora a papelaria já deveria estar fechada – e, então, dentro de meu guarda-roupas, avistei aquele porta canetas e porta clipes que havia comprado e ainda não aberto, era embalado por uma folha plástica decorada e amarrada por uma fita de cetim, já com as pontas enroladas, em uma cor próxima ao rosa e ao bege.
                Enrolei as folhas da partitura no cetim e, para não ser visto com elas no campus e não amassá-las, guardei onde guardo a flauta que minha avó me dera. Atravessei o campus, temia não encontrar seu carro após ver algumas vagas livres. Então avistei, retirei as duas folhas da bainha da flauta, com certa dificuldade, pois o papel ficara preso por alguns instantes. Amarrei o cetim no limpador de parabrisas com as folhas enroladas e agora me encontro a contar essa história para jamais esquecer esses dias em que, como disse meu amigo na sorveteria, as coisas parecem ir tomando seu rumo e darem certo, complemento dizendo que são dias em que estou em diversos cenários, com diversas histórias, como  nos filmes, como enxergo a vida, que acontece como eu desejo.
                Abrir mão de uma vaga de emprego torna-se mais prazeroso que a conquistar, é sinal de maturidade, além disso, há uma chuva de oportunidades. Passear em São Paulo, entrar na Catedral – há um bom tempo não vou a uma missa – maravilhar-me com o centro cultural, as ruas do centro, as ruas do bairro, dirigir pela cidade, aulas, pesquisas, provas, apresentação teatral, dança, contar boas notícias, comer açaí, compartilhar açaí, olhar para o céu noturno sentados na grama, beijos no carro, braços, pescoço, rosto, boca, tocar pessoas, amar, fazer alguém feliz...



    Programo o blog para publicar este texto daqui há alguns dias, vou esperar o que vai acontecer antes de contar a notícia...



     Bem, hoje é 30 de novembro, volto ao texto, não o reli ainda, mas vim publicá-lo no blog...





























These days


                       Estes têm sido os melhores dias em São Carlos do Pinhal. Estou no sótão do alojamento da universidade, à noite e chove um pouco lá fora, deixando ainda mais bela a praça que trás às entradas das moradias. Acabo de chegar de uma lanchonete que, em textos de momentos especiais – como este – costumo chamá-la de taverna; estávamos em três amigos e havíamos passado a tarde a trabalhar em um projeto de uma disciplina, enquanto alternávamos entre músicas, falávamos de tudo quanto era assunto ou mesmo medíamos as envergaduras de nossos corpos em uma parede em uma competição proposta por outro morador do apartamento.
                       Nesta semana fiz aquela que pode ser possivelmente minha última prova nesta graduação e ela foi justa para representar esse papel: inteligente, curiosa, atraente, exigente, com cálculos, estimativas, reflexões, teorias e, sobretudo, trouxe de volta aquela sensação de uma sala cheia no dia anterior com todos me tendo como referência para tirar dúvidas, bem como nos minutos que a antecederam. Naquele dia, acordei cedo, um pouco antes de o celular despertar, o que fizera meu coração bater mais forte temendo estar atrasado; pude me controlar rapidamente, ensinar ao corpo que não há mais necessidade de desespero, que o mundo volta a serem flores, a cada dia mais belo.
                       Nesses dias, nós sentamos uma vez no palquinho e conversamos em paz junto a veteranos; ajudamos, como sempre, ou mais ainda, uns aos outros; conscientes de que em nosso grupo de amigos, que tão certo é, tão certo foi, tão certo tem sido, cada um a partir de agora tomará um rumo, alguns distantes, outros até semelhantes, embora não serão mais tão frequentes as noites a estudarmos, ou melhor, a muito descobrirmos, aprendermos e vivermos, em vésperas de provas, de trabalhos, etc. Assim já bate a saudade de jogarmos com nossos computadores em rede em comemoração, pingpong, baralho, magic, war... Tomarmos fanta de R$0,50 (hoje já R$0,60) em um dos bares da faculdade, comprarmos presentes de aniversário e tantas, mais tantas outras coisas que se as escrevesse pareceriam ter sido menos importantes, pois muitas vezes as palavras simplificam as aventuras vividas mesmo quando bem escritas – ah, e como as palavras podem ser belas.
                       O mundo também nos leva a conhecer novas pessoas e vamos ter de aprender novas piadas, as quais talvez não sejam tão belas, tão fantásticas, tão nerds, tão harmônicas como nossas piadas internas. E como pudemos conhecer uns aos outros, como os assuntos ganharam tanta profundidade como na universidade... Política, ciência, física, fé, existência, astronomia, brincadeiras, mulheres, comportamento, filosofia, músicas, engenharia...
                       Espero o toque na música... Agora, chora a guitarra de Within Temptation na noite nublada no sótão do alojamento, lembro dela, minha namorada, lembro do poema que escrevi, mais belo texto que já escrevi ou que já se escreveu no Brasil ou no mundo... Tenho de escrever aqui também que a amo, que não consigo sair de perto dela, que não consigo descer do carro ao pararmos em frente, que não consigo fechar os olhos ou abri-los sem pensar em estar com ela. A noite passada, as noites anteriores foram as mais incríveis, ontem já era hoje há três horas e eu não poderia dormir, apenas beijá-la e assim tocar nossos sentimentos, tocar, sentir, beijar todo seu corpo quente, ouvir sua respiração, transcender os sentidos físicos e estar com ela, ser com ela, sermos um infinito de amor.
                       Sim, esses têm sido os melhores dias em São Carlos, dias livres, dias novos, dias antigos, dias futuros, dias sábios, dias certos, dias tomados, dias aproveitados, dias vividos... Entrevistas de estágio, pesquisas em TCC, seminários, apresentações, fotos, textos, amigos, trabalhos acadêmicos, relaxamento, teatro, meu time de futebol voltando a brilhar, boas perspectivas para emprego, para ajudar meus pais, voltar a cursar inglês, academia, tocar violão, ler, compreender o espiritismo, perspectivas para ser feliz... Para sermos felizes, pois em todo pensamento ela, minha namorada, me vem e ela, minha avó, me vê, vê que nossos desejos vão dar certo.


Novembro


Remember, remember, the 5th of November
The gunpowder, treason and plot;
I know of no reason, why the gunpowder treason
Should ever be forgot.






Imagem: Autumn in New York City by =AnnaGiladi



             Novembro está na música, nos poemas, no ar…  Aqui, no Brasil, até podemos chamar a chuva de ontem de “cold november rain” (chuva gelada de novembro), em comparação com os recordes de temperatura nos dias anteriores, que passaram dos 40°C em muitas cidades.
                Porém não vim falar de chuva, nem tanto de novembro, como sugere o título. Vim dizer oi, contar uma certa saudade de vir aqui escrever. Já disse certa vez que quando bons acontecimentos me ocorrem, às vezes me agradam e os vivo de tal modo que não encontro tamanha excelência em descrevê-los.
Assim outubro ficou com poucas postagens, estive em várias cidades, na maioria, para processos seletivos de estágio, embora servissem também como pretexto para que eu tivesse tal experiência, uma vez que minhas prioridades quanto a estágio são as cidades onde já convivo. Também estive em outros países, pela primeira vez, conhecendo maravilhas da natureza.
Viajei com amigos, teoricamente concorreria contra amigos, mas na prática nos conhecemos ainda mais e também novos colegas.
Ontem entrei na biblioteca – é incrível que, com viagens para tantos lugares eu venha detalhar um acontecimento que parece tão simples – e passei bastante tempo por lá. Quando saí, vi um tempo úmido e pessoas vestindo vermelho e amarelo para a Tusca, que para mim e para meus amigos tinha um valor diferente, de lembrança e de que essa graduação já está quase terminando, não tendo competido em esportes pelo brasão de nossa universidade, nem presenciado a fase de ficar com várias universitárias em festas.
Competimos de certa forma, por vagas no mercado de trabalho; se em uma sala estou com 20 estranhos e em minha apresentação digo ser da USP, de repente pode se tornar 20 contra um. Contudo não concordo que dinâmicas de grupo sejam competições, também não concordo que Tusca seja competição. Competições de verdade trazem aquele espírito esportivo, emocionam dezenas, centenas, milhares, milhões ou quantos com elas estiverem relacionados. Competição é como a Maratona de New York, que, infelizmente foi cancelada neste ano devido a questões relacionadas à reconstrução da cidade após a tempestade Sandy, deixando milhares de turistas e atletas com sonhos adiados.
Geralmente falo relacionamento amoroso neste blog; então o esperado era que outubro contivesse dezenas de postagens, sobre cada frase dita, sobre cada mensagem trocada, sobre cada toque sentido, sobre cada beijo compartilhado... Embora no primeiro dia eu tenha escrito um texto ainda não publicado, pouco me referi a esta parte da história. Conto em breve.

Já é quase fim de setembro




A ponta de uma unha trinca e se rompe, houve também pequena hesitação para iniciar o texto devido ao apoio gelado do teclado. Paro, coloco o fone de ouvido, eles aquecem por dentro e por fora, volto a escrever.
Aqui está mais quente que na taverna, que assim a chamo, talvez somente eu, embora seja uma lanchonete, a qual frequentamos nos últimos dias diante a interdição do restaurante universitário devido a goteiras, ou cachoeiras e isso não sou apenas eu quem diz, são correntes espessas de água.
Despeço dos amigos por ora, diria por hora e alguns minutos, amanhã estaremos novamente a estudar. Entro na biblioteca, saudade dos livros em português, o que não é lá grande problema agora. Baixa bateria me alerta o celular, por três vezes no caminho, em que faço uma ligação para casa.  Também faz frio por lá, depois de um inverno quente e seco e de uma chuva de variação, sequência de eventos que vem do sul. Passo em frente o salão de dança, deveria pagar o professor, embora eu tenha faltado hoje e possivelmente faltarei também na próxima semana.
Fico a me perguntar sobre logística, amanhã à noite teremos uma apresentação aqui, na madrugada embarco para a capital, donde posso ir para casa ou retornar, pois preciso de livros e de meu computador no final de semana. Preciso terminar um trabalho, continuar três, começar outros dois, fazer provas e viver ensaios.
Ontem dormi as três e pouco, agora tomarei banho, sabe lá que hora voltar, mas sabe lá que tantas benfeitorias encontrar e realizar.
É uma quarta-feira fria, -4°C é a sensação térmica na capital; leio o que o ar diz, mas o mundo persiste agitado, com sensações serenas e tempestuosas, doces e sérias, grandes e brandas ou sutis e vigorosas, sinestésicas. Já é quase fim de setembro e ter prova na próxima semana surpreendeu-me desta vez. É que na faculdade é diferente o modo como contamos os dias, de sete em sete, às vezes dez, quatorze, depende de cada livro, na biblioteca, das datas em que precisamos renová-los.

 



Imagem: http://ekorrbilden.blogspot.com.br

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