Na Avenida Lisir Eva...

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La Délicatesse

Chove, é novembro, 17.

Toco nas teclas feito em máquina de datilografar

Dois enters,

Na sala da república assisto a um filme no computador, um romance, Nathalie e Markus

Hoje de manhã tive de adiar minhas férias, projetos atrasados.

Hoje à tarde, novamente o facebook sugeriu que eu marcasse Marcos em minhas fotos

Em uma cena do filme, é dito que Nathalie é o tipo de mulher que anula todas as outras, bem como meu pensamento funciona, pois, aconteça o que acontecer ao longo dos anos, por mais que pareça  que tenhamos nos apaixonado por alguém, tudo muda a qualquer lembrança dela.

O evento será no kartódromo em São Carlos; que não funciona como kartódromo, andei de kart pela primeira vez há duas semanas, misturo assuntos, há tanto a contar...

O filme se passa na França; Markus é suéco; estive na Suécia, França, estive em muitos lugares nesses anos sem escrever
Entra um rapaz cantando na república, antes tocava seu violão; lembrou-me Raul
sem escrever em português, sem escrever poemas
deixe-me lembrar as pérolas naquele tempo ostral,
deixe-me achá-las pela memória,
então virá o Natal, estarei livre novamente,
e as pedras brilharão
estive na Holanda, vi pedras que brilhavam; mas por mais belas, não as sentia;
mas sinto o natal se aproximar e voltarei a ser eu

O filme se aproxima do final, é impressionante: o segundo nome de Nathalie é Kerr.
Uma noite em Paris é uma noite mágica, pra lá vai meu pensamento, lembrando da noite em que eu e uma garota russa corríamos atrás do metrô; antes eu conversava com uma adolescente francesa sobre sentir, ali, numa noite estrelada na praça que leva à Torre Eiffel.
Quando mais novo eu passava um tempo em uma árvore no clube do SESI aguardando minha irmã na natação, hoje há um teatro onde havia aquela árvore.


"Foi nesse local, no coração de todos essas Nathalies... que eu decidi esconder."

Papo de perdedor?!

E foi assim, termina o semestre sem que eu tenha obtido resposta de 42 empresas nas quais me inscrevi em processos seletivos de estágio no estado de São Paulo. Outras vinte e duas me responderam, disseram que eu não fazia o perfil da empresa, que eu era elétrico, que eu não teria capacidade para representar a empresa ou simplesmente não deram satisfação (maioria).

Na média, em cada empresa havia 70 candidatos por vaga. Pela análise de currículo e provas online o número caia para uns cinco por vaga quando das dinâmicas de grupo e painéis, era quando apareciam psicólogos que provavelmente não sabem para que lado se aperta um parafuso, porém nos papéis de responsáveis pela decisão sobre os melhores engenheiros para os cargos. E então distribuem os pontos para os que falam mais alto, os que interrompem os demais para dizer besteiras, os de melhor aparência, os que possuem veículo próprio ou às vezes para os mais convencidos e os que não apresentam tendências esquerdistas.

Em dinâmicas de grupo não importa o quanto se é hábil para o cargo, porém o quanto os candidatos conseguem se passar por hábeis, uma vez que os avaliadores não tem a menor ideia se um painel solar gera mais ou menos energia que Itaipu, então se pode dizer qualquer besteira, desde que se diga e aparente liderar os demais.

Então ocorrem os painéis, com a presença de gestores; pessoas que um dia quiseram ser engenheiros, mas que se estagnaram na “engenharia brasileira”. Explicarei o termo entre aspas no próximo parágrafo.

Na indústria brasileira pouco existe de engenharia. Pense por um instante, o que é realmente projetado no Brasil? Quantas empresas 100% nacionais você conhece? No Brasil ocorre um fenômeno segundo o qual engenheiros são contratados para administrar empresas. Seria isso incompetência dos cursos de administração? Quando não administram, eles organizam processos – o que é, a meu ver, um desperdício de inteligência.

Não que melhoria contínua e aquelas centenas de siglas em inglês não sejam importantes, porém não compreendo por que um indivíduo deve manjar de cálculo e resistência dos materiais para ficar com um chicote e um cronômetro a fim de dizer ao subordinado que a parede vem antes do teto e forçar o operador a acelerar o ritmo de trabalho para elevar o lucro de algum desconhecido que fica deitado com seu notebook sobre a pança a jogar com a bolsa de valores.

Engenharia, do latim “ingenium”, que significa “gênio” e remete a quem cria objetos, equipamentos, mecanismos inteligentes “para o bem do homem”, como escrito de modo ambíguo no terceiro verso de seu juramento, o qual pouquíssimos engenheiros devem conhecer.

20% de minha turma não se encontram mais no Brasil, viajaram a países onde o verbo engenheirar existe. Não quis fazer intercâmbio e de certa forma isso me fez bem, tendo eu concluído 98,5% das disciplinas em quatro anos, não me afastado tanto de minha família, de meus amigos e iniciado um relacionamento.

Não consegui estágio até o momento, não terei mais disciplinas a cursar com a turma toda e o namoro terminou, tendo sido eterno pelas semanas que durara. Volto para casa, para minha cidade, onde meus amigos de tempos passados hoje trabalham, casam, bebem, organizam encontros sem me convidarem ou sabe-se lá por onde andam.

E então as expectativas do emprego, da garota, do futuro não ocorrem como esperado e me vi sem rumo pela primeira vez. A sociedade nos diz o que devemos fazer até a formatura da faculdade. Depois é por nossa conta e risco.

Risco... Sempre que recebemos palestrantes que foram ex-alunos de engenharia eles contam suas histórias de terem reprovado em dezenas de disciplinas (alguns até mesmo desistido do curso), porém criado empresas a partir da universidade e são bem sucedidos. Uma curiosidade anexada aqui ao texto.

Não tenho problemas em me relacionar com pessoas. Evito conflitos, é verdade, porém estou ali no TOP 5 da turma em puxar assunto com desconhecidos – principalmente do sexo oposto – sem dificuldades (a menos em festas, onde de um simples “oi” já se subentende outras vontades; tipo de relação que não têm lá minha total concordância nem trejeitos). Aliás, chega a ser um hobbie conhecer pessoas nessas rodoviárias por onde passo usualmente.

Bem, o texto já se encontra um pouco extenso. O correto seria reler e melhorar a escrita antes de publicar, porém se não o publicar agora ficará um tempo esquecido ou arrependido entre outros arquivos na pasta de arquivos a organizar na área de trabalho.

Não trato como papo de perdedor, essas viagens (que me tomaram todo meu dinheiro) pelo estado de SP em processos seletivos eram mais encaradas como uma etapa divertida da vida do que motivos de preocupação, uma vez que as minhas prioridades estavam nas cidades próximas; sabendo eu que só ficaria preocupado quando fosse recusado em empresas daqui...

Começa uma nova jornada e preciso estabelecer outras prioridades. A ideia era entrar para uma empresa, casar, ser um mecenas... Mas sem essa de ficar rico ajudando ricos a ficarem milionários. Minha conversa é com a natureza, com a física, engenheirar, como pesquisador ou professor, talvez. Fazer coisas úteis. Em empresas talvez, via concursos, sem psicólogos a se intrometer no que não sabem, a julgar quem não conhecem.

Uma nova jornada


                Sabe aquela sensação de voltar para casa após sete anos? Não, talvez não a conheça, mas talvez a consiga imaginar. Quando entrei na faculdade, ou talvez antes disso, passei a consentir que vivia no futuro, afinal, a pergunta na infância era: “o que quer ser quando crescer?”. E então andava pelas ruas do futuro, com carros mais modernos que os daquele tempo, com wi-fi, computadores, facebook, vida universitária em uma universidade de primeiro mundo e tantos detalhes que me fazia sentir no futuro do passado.
                Esta semana fiz duas apresentações em um painel de processo seletivo de estágio; em uma delas, apresentação pessoal, disse estar em um período de transição rumo a uma nova jornada, sem abandonar todo o trajeto vivido até aqui. Acontece que percebo agora que esta transição é mais do que apenas uma mudança de cidade. Estamos em dezembro e já entreguei meu último trabalho da graduação neste semestre; para a formatura, é preciso cursar uma disciplina, concluir o TCC, uma iniciação científica e as horas de estágio, assuntos que são candidatos a se tornarem prioridades a partir deste dezembro. Dizia – e digo – que assim que acabasse essa correria da graduação em tempo integral eu voltaria a fazer algumas atividades de que tenho vontade, como aulas de inglês, tocar violão, flauta, talvez violino, aprender mais sobre o espiritismo, quem sabe participar mais ativamente, usar parte do dinheiro do estágio em projetos sociais, mesmo que seja presenteando crianças nas ruas, reformar a casa e voltar para a academia a fim de ficar um pouco mais fortinho para a namorada. A ideia era essa, ainda é, eu voltaria para a cidade da faculdade aos finais de semana para vê-la; às segundas terei aula e cuidarei das partes práticas do TCC e entre terça e quinta faria estágio em terra natal. No entanto ela disse que não era amor e, embora seja a melhor garota que eu conhecera nesses últimos anos, ou quem sabe na vida; de fato, eu não passava os dias em transe, sem me concentrar em qualquer outra coisa; porém concebia o encanto, imaginava o futuro, imaginava que era preocupação demais com os deveres e que a tranquilidade que viria em breve faria com que ela se tornasse minha prioridade. E quando possível eu inventava o que a poderia surpreender. Faltou sentir a fundo aquela preocupação sobre como ela estaria a cada segundo longe de mim, mas ela viajou ao sul e eu não vejo nenhum problema nisso. Ou seja, faltou a paixonite, aquela pitada de tempero desconhecido e incompreensível, pois, ademais, tudo parecia dar certo e achei que esse modo de amar fosse sinal de amadurecimento. Preciso aprender a diferenciar amadurecimento de falta de paixão.  E mesmo quando ela disse se tratar de amizade, mostrou-se ainda mais próxima da garota perfeita, que ama o mundo e busca o príncipe encantado.
Então volto para casa, não faz sete anos, apenas alguns dias. Mas de repente é como se fosse. Há sete anos eu estava na oitava série, tinha minha avó e nós e toda a família mergulhávamos no espírito de natal. Volto a sentir a presença do natal, volto a andar no centro da cidade pelo natal, retorno ao shopping desde há muito tempo, volto a montar a árvore de natal; minha mãe encontra os pisca-pisca no quartinho dos fundos e ficaremos a nos maravilharmos com as luzes na árvore. Passo o sábado em frente ao notebook e agora, quase madrugada, chego quase ao final do relatório parcial de trabalho de conclusão de curso.  Os dias são quentes, de quentes a insuportáveis, estou no chão do quarto ao lado do ventilador comprado hoje por minha mãe; de repente percebo que é mesmo uma transição, não me parece mais que vivo no futuro, mas como um retorno aos cenários do passado, porém os cenários mudaram, as pessoas mudaram (algumas partiram a outros mundos), mudaram algumas de cidade, algumas a elas mesmas; outras reencontram a felicidade. E volto para casa, pretendo estar de volta em casa agora. Queria ir ver minha garota, quem sabe ainda nos apaixonemos. Férias (férias entre aspas, tenho a iniciação, o TCC e os processos seletivos), rumo ao último ano de graduação, ruma a uma nova jornada, de volta para casa, de volta aos cenários conhecidos, mas como novos cenários, pessoas conhecidas, pessoas amadas e novas pessoas. Feliz dia de Nossa Senhora da Conceição.

Uma Rua Deserta e Anjos de Natal


Uma rua deserta e anjos de natal é o que restou? Madrugada de 30 de novembro e eu não tenho pensamentos. Queria que as palavras fossem mágicas, mas palavras são palavras e pessoas são humanas, as palavras não se arrancarão das páginas e viajarão pelo passado e pela distância a fim de reconquistar e recuperar o que perdi.
                Uma rua deserta na madrugada e anjos de natal que iluminam um pedaço do mundo. Natal, uma data que ilumina um pedaço do ano, uma data que salva, sempre minha data favorita, mas mal posso ouvir essa palavra e a repito, e a repito.
                E os pensamentos são opacos, como a lua desse 30 de novembro e a rua deserta com seus anjos de natal. Onde antes passavam os anjos de Natália.
                Onde antes passavam tantos sonhos, onde hoje o que restou é uma rua deserta e seus anjos de natal. O antes... O antes era a grama, a lua, as estrelas e a distância éramos nós, distantes dos problemas do mundo, sentados no gramado do campus. O antes era o beijo ao som ao vivo de Lenine, como em filmes, como trilha sonora, como protagonistas, como o par romântico, como o que levaria ao felizes para sempre. Antes eram os melhores dias, diria o melhor ano na universidade. Antes era a partitura deixada em seu para-brisas, o jantar em sua casa, a comemoração por ter passado no mestrado e os beijos, toques e abraços pela madrugada, quando evitávamos o sono e eu desejava que o tempo não passasse ou, se passasse, que fosse ali, daquele modo, nós dois e os bancos do carro.
                Hoje a música são os leves toques de Debussy, Beethoven e Chopin no piano triste na internet. Hoje é a despedida, hoje é apenas uma rua deserta, os anjos de natal e as lembranças. Lembranças da partida de quem mais me amou, lembranças da despedida de quem amei... E fica assim, opaco ou vazio, como uma rua deserta com a lua escondida. Sem rumo, com seus amigos se dividindo rumo a vários continentes, sem emprego, sem saber se voltarei para casa ou terei uma vida corrida em uma grande cidade ou em uma cidade qualquer liderando pessoas com vidas corridas para que um dia liderem pessoas com vidas corridas até que só haja corridas e não haja vidas.
                Mas veja que a ciência me chama e as palavras querem ser escritas, estou na capa do jornal. Meu texto na capa do jornal e outros resultados que me orgulham, mais, bem mais que o diploma, o que levo da universidade são comentários como “orgulho de conhecer essa figura”, parabéns e tantos elogios. É o que se leva, as recordações, de palavras, de toques, de sensações, de sentimentos, de vitórias, de derrotas, de alegrias, de tudo, as recordações. Ademais, é uma rua deserta, sem saber para onde ir, o renascimento e os anjos. Uma rua deserta e os anjos de natal.


Sobre muitas coisas da vida. Vida, dias perfeitos.



Começo a contar esta história em uma tarde de dia útil, foi uma terça ou quarta-feira há algumas semanas, quando caminhava em direção ao bloco de aulas da Engenharia de Produção e ali pela praça no centro da universidade, em um estande fixo de madeira, crianças vendiam porta canetas e clipes e panos de prato, se bem me lembro.
As vendas são destinadas à manutenção de um projeto social do qual essas crianças participam aqui mesmo na universidade, não muito longe de onde me encontro esta noite a escrever este relato. Comprei então um porta canetas e o deixei guardado, ainda fechado, dentro de meu guarda-roupa, em uma folha de plástico transparente decorado.
Então se seguiram os dias, trabalhos escolares, provas, pesquisas para o TCC, iniciação científica e, em especial, destaco nossa apresentação pelo nosso grupo de teatro, cujos ensaios ocorrem no salão cultural do nosso centro acadêmico – embora o grupo não se restrinja a estudantes desta instituição.
Em um dos encontros no semestre passado, falávamos por algum motivo sobre dança e uma garota disse ter vontade de dançar. Então, comentei que ali no centro acadêmico havia cursos de danças, mas eu não participava por não ter um par. Ela lançou o convite e concordei; porém isso foi deixado para depois das férias, que se aproximavam após as corridas semanas de provas de final de semestre.
As aulas voltaram em agosto, neste mês fui com um amigo a uma festa junina aqui na arquitetura e encontramos com o pessoal do teatro, donde formamos dois casais para as aulas de dança de salão. Foi que minha parceira teve de faltar – após um pedido de desculpas – e meu amigo desistiu do curso, pois era no horário de almoço. Deste modo, aconteceu de eu trocar definitivamente de par para a aula de dança.
Dança é uma bela arte, mais belas são as danças circulares e as de casais, como valsa, bolero, ou mesmo forró, samba de gafieira e salsa, mais comuns na cidade. Bela não para ser o único homem a saber dançar e aproveitar de todas as meninas, mas pela arte do encanto, do encantar, pelo prazer em acertar, em entender um mundo diferente do que estamos acostumados.
Dancei uma tarde, no ano passado, assim, de repente; durante um intervalo dos ensaios, alguém colocou My Girl de The Temptations – aquela música do filme “meu primeiro amor” – Foi com a mesma garota que quase se tornou minha parceira de danças aulas. A mesma que, no final do ano passado, em seu aniversário, fui escrever alguma mensagem em seu facebook e me dei conta de como ela possuía a rara combinação de beleza, inteligência, ser divertida, humilde e cativante – curioso que no último final de semana assistia a um filme em que esta era mais ou menos a frase que o protagonista dizia a sua esposa, só agora me dei conta disso.
Com essa mesma garota, passei algumas noites, dias inteiros, mesmo madrugadas a ensaiarmos para a apresentação ocorrida em setembro, há umas duas semanas e meia. Estava quase todo o grupo, mas como a peça era formada de muitas cenas individuais, fiquei a ensaiar com ela nas salas ao lado.
E ela dançava, livre, opunha-se aos demais personagens da peça, pessoas que não se tocavam, que ficavam imersas, mergulhadas em um sistema de egoísmo e consumismo, o qual a peça criticava. Ela dançava, bela, com suas roupas finas e leves.
Em um ensaio, um spot de luz acendeu antecipadamente sobre nós, ficamos – eu, pelo menos – imóveis, como quem é pego no flagra fazendo alguma coisa que não poderia ser vista.
Esse é parte do contexto da história que venho contar, uma parte bem pequena, muito resumida, sem citar o coração de papel que a entreguei na madrugada,  as conversas que tivemos em seu carro na volta dos ensaios – mesmo que eu morasse a poucos metros dali, no alojamento da universidade – do que falamos e nos conhecemos... Do que gostamos falarei um pouco e então prossigo a contar.
Gosto de filmes, de histórias de filmes, de cenários de filmes, de quando as coisas em nossa vida acontecem como nos filmes; como aqui na universidade, quando chovem flores e estamos a caminhar, quando faz frio e usamos casacos, quando vencemos, quando vemos o trem, quando viajamos e olhamos o horizonte pelo caminho. Ela gosta da lua, de ver a lua em sua pequena cidade do interior, onde as nuvens não refletem as luzes de uma grande cidade, deixando o céu escuro, misterioso e encantador.
Apresentamos então a peça, fomos muito parabenizados, embora eu estivesse pessimista devido ao pouco tempo de ensaios e de, particularmente, estar cheio de afazeres na graduação e meu personagem não ser tão engraçado como o do ano anterior.
Atendi seu telefone quando sua mãe ligou, sentia-me mais próximo e apaixonado. Gostaria de dizer, de beijá-la, tive a paciência correta.
De lá fui fazer minhas malas e os encontrei – o grupo – mais tarde na lanchonete. Partiria pela madrugada em direção à capital, para minha primeira dinâmica de grupo em processo seletivo de estágio. Então esperaria acordado, porém ainda era cedo quando deixaram a lanchonete, exceto ela, eu e seus amigos. E, então, foram também, fiz questão de que não precisariam me esperar.
Fui à capital, sozinho, mas um amigo me encontraria para levar-me da estação ao prédio. Metrô, bairros nobres, prédios, roupa social, café, vitamina, dinâmica de grupo, metrô, foto no MASP, depois lanche e outra vitamina, metrô, casa.
No domingo ela me escreveu, em meu mural no facebook, uma apresentação, como seria minha apresentação em uma empresa, um enorme parágrafo de elogios. Não soube como responder, disse que o faria pessoalmente e, após outro ensaio em uma noite, conversamos por certo tempo, poderíamos ter nos despedido com um beijo, não tomei a iniciativa.
No outro dia, mais uma vez partira eu rumo à capital, outra dinâmica, em bairro próximo ao de sete dias antes. Camisa emprestada, deixara as minhas em casa e o convite fora de repente. Desta vez fui com um amigo que também participara da dinâmica, aliás, muito mais organizada, onde tivemos muito mais liberdade e muito podemos aprender. Café, foto, almoço no shopping, trem, metrôs – em um deles, a campainha soou enquanto meu amigo estava na porta, puxei-o um instante antes da porta fechar. Mais um dia na capital com histórias a se contar.
Retorno, fim de semana em casa, visita à empresa de meu pai no dia da família, que começara com uma palestra sobre conhecer uns aos outros, auto-estima ou... bem, o dia começara antes, era dia de eleição, decepção com os rumos políticos de uma cidade que, embora grande e supostamente desenvolvida, está marcada desde sempre pelo coronelismo. Uma revolta que me desviava a atenção quando tentava fazer outras coisas, mesmo estudar na segunda-feira na faculdade.
Já à noite recebo novo convite, agora uma entrevista de emprego. Estava certo que na terça iria a uma dinâmica em Jundiaí, porém este novo convite me faria retornar à minha cidade, em um hotel próximo à prefeitura. Sempre gostei de andar pelo centro, principalmente quando chega o natal ou quando fica aquele clima londrino, nublado. Desta vez, seria um prazer diferente, passear pelo centro em roupas sociais, desfilar posso dizer. Nessa terça-feira, ontem, havia na praça central um ônibus do Menina Fantástica e uma fila de garotas que sonham no futuro serem modelos.
Primeiro tomei um sorvete com meu amigo e contei a ele sobre o que acontecera na noite anterior. Ele ficou feliz, disse que sentia até mais feliz do que se tivesse sido com ele. Interessante dizer isso, pois o dia prometia um paradoxo. Eu e meu amigo, em nossa cidade, disputando a uma única vaga de emprego, eu, meu amigo e umas cinco pessoas com currículos inferiores. Meu amigo, dono da maior nota do curso e de um dos melhores, talvez o melhor, currículo de nossa engenharia entre as pessoas com quem convivo. Meu amigo, que namora uma garota que eu apresentei e que um dia eu mesmo pensei em namorar. E ele ficou feliz pelo que contei sobre a noite anterior, eu ensinei onde ficava a sorveteria, meu amigo.
Da sorveteria voltei ao centro, entrei na catedral, agradeci, olhando para a imagem no vitral, como costumo fazer quando entro lá. Observei a beleza da catedral e as palavras em latim, imaginando o que poderiam significar. De lá fui ao antigo hotel, hoje centro cultural, com exposições e, nesta semana, oficinas de instrumentos musicais. A flauta, a flauta era a que mais me chamava a atenção. Assim, digo agora o que então ocorrera na noite de segunda-feira.
Estava diante um paradoxo, participar de uma dinâmica em uma multinacional em Jundiaí ou retornar a Ribeirão e disputar uma vaga única com o cara com a melhor nota da sala, várias iniciações científicas e vários títulos e prêmios acadêmicos? Ribeirão, a mesma Ribeirão pela qual sou apaixonado, mas que teimava em eleger os mesmos políticos a décadas, a mesma Ribeirão que me expulsara de seu grupo no facebook nessa mesma segunda-feira, feito ditadura, após eu demonstrar sutilmente minha insatisfação com o resultado das eleições.
Não tenho aulas às quintas; sexta é feriado, dia das crianças e de N.Sra Aparecida (interessante, agora lembro que na terça eu explicava para minha mãe como se abreviava N.Sra, após ter pesquisado na internet; porém ainda não salvei no computador de casa umas fotos que ela me pediu, apenas aqui no note e no pendrive). Assim, parecia não haver prejuízo se eu voltasse para casa e por lá ficasse durante toda a semana. A questão era, ia na segunda mesmo ou esperava pela manhã de terça-feira. Mais uma vez, tive a paciência correta.
Estaria a garota a fim de mim? De mim? Logo de mim que nunca tive namorada? Quem nunca havia beijado além de três beijos de despedida há três anos, porém totalmente mal feitos, pois errei ao seguir o conselho de um amigo sobre como se beijaria. Mas realmente a fim de mim? Curioso é o destino. A palestra na empresa no domingo havia sido de auto-estima, contive-me em minha educação, em meu interesse pelo lugar e em meu estranhamento sobre o tema, esperava uma apresentação da empresa, não questões morais. Porém é como aprendemos no teatro, alguém apresenta algo, não criticamos, não julgamos, aceitamos a ocasião, aceitamos a coragem em apresentar, aceitamos a dedicação.
Se eu voltasse para casa, seria por uma semana, muito tempo para um engenheiro que vive seus anos de graduação resolvendo grandes problemas todo tempo, velozmente, pois dezenas, centenas de outras questões aparecem todo momento.
Fui então até uma das bibliotecas da universidade, onde passei uma manhã a tirar dúvidas de física para a prova de mestrado da garota. Raramente frequento a biblioteca da física; utilizo a da engenharia, por ser do curso e, às vezes a da química, por ser mais perto. Resolvi ir até lá, queria a encontrar e a encontrei, estudando.
Disse que fui fazer uma visita, discutimos alguma coisa de física, ela me disse que esperava por um rapaz, um doutorando em física, que lhe daria aulas particulares do tema. Foi a segunda vez que senti ciúmes; mas logo ela disse que era pago e entendi que o professor estaria lá para dar aulas. Ciúmes mesmo foi em outro instante, ao final da peça naquela outra noite, ela me disse parabéns, eu respondi com um abraço, não tão forte como de um homem que aparecera depois, mais alto, mais velho, mais forte; mais íntimo, pensei. A felicidade me veio quando comentou no encontro da semana passada, no qual discutíamos sobre as impressões causadas pela peça, que o namorado de uma amiga lhe viera retribuir o abraço – que a personagem dela dava no público. O namorado de uma amiga, então entendi.
A aula seria das 19h às 21h. Anotei seu telefone, enviei uma mensagem às 19h25min, uma mensagem bem curta, citando um lugar e um horário, 21h30min, comer açaí – o açaí foi ideia de outro amigo, um dos dois com quem me reunia na biblioteca da engenharia para fazermos um trabalho que deveria ser entregue na manhã seguinte, terça-feira. Ele é um amigo sábio, já devo ter escrito algumas vezes sobre ele, sobre eles, aqui no blog.
Fui tomar banho, enviaria o trabalho por e-mail e entregariam para mim. Ela respondeu às 21h08min, depois deu ter atendido rapidamente ao telefone quando um amigo – o mesmo que me foi comigo a São Paulo – dissera ter sido chamado a uma dinâmica – na mesma Jundiaí que deixei de ir na terça-feira, ontem.
21h08min: NOME, vc foi pro top a¿ai??
21h09min: Não ainda, mas me dirijo à rodoviária ali perto.
21h10min: Vc partir¿ q hras??!
21h11min: Amanhã só. Está com fome?
Eu ainda estava na faculdade, virei, passei pela praça, voltei à biblioteca. Ela se encontrava em outro lugar, em uma sala de vidro, passei atrás dela e a vi com o celular. Digitou alguma coisa, estava respondendo a mim.  Porém a vi aquando apagou a mensagem e começou a reescrever. Estaria em dúvida? As mulheres perfeitas também seriam meninas quando sozinhas? Também não sabem o que dizer?
Saí para que não me visse, esperei com o celular na mão do outro lado da parede – que não é de alvenaria, mas aquela repartição. Ela demorou para responder, ou estariam os segundos durando horas? Decidi entrar na sala, ela estava com fome, quis terminar de ler uns tópicos antes de ir; enquanto eu li a prova de um ano anterior.
Fomos ao açaí, pedi um sabor diferente para que ela pudesse experimentar, conversamos sobre muitos assuntos, saímos pouco antes do estabelecimento fechar. Voltamos a seu carro e ela me deixou na porta do alojamento da universidade, enquanto o rádio sugeria músicas românticas e outras músicas também.
Não me recordo de quem se referiu primeiro à lua, ela, ela quis ver a lua e eu disse ter descoberto um lugar em que desse para vê-la como no sítio, o campus da universidade vizinha, onde ela estuda. Era madrugada, mas fomos para lá. E então sentamos na grama – na segunda tentativa, depois do formigueiro da primeira – próximos a uma mata e a um prédio didático.  A lua não estava lá – ela disse que há alguns dias não a encontrava – mas havia estrelas, a grama, ela e eu. Conversamos ainda sobre muitas coisas e, após um pequeno silêncio, eu perguntei: “sabe do que tenho medo?”. Tinha medo de me declarar e então não podermos mais sentar na grama em uma madrugada, sem recordar uma recusa e viver em um clima túrbido. Disse que tinha medo de dizer que estava a fim dela.
Ela iniciou sua resposta, sua primeira palavra me trouxe à mente o início daquele modo educado de se dizer não, de dizer que somos apenas amigos. Acho que sua segunda palavra também; porém ela me surpreendeu, disse também estar a fim de mim.
E agora? Então nos beijamos, ela me ensinou a beijar, e deitou-se em meu ombro, ficamos por horas pela madrugada. Tinha meu trabalho a entregar, e ela sua prova, mas nada mais importava, nada que não fosse no plural, no nós.
                Outros minutos, hora – não sei ao certo, para mim pareceram dias – passou-se entre os bancos da frente de seu carro quando me deixara no alojamento e nos beijávamos.
                Passou-se a terça-feira. Amigo, lembranças, entrevista, hotel, catedral, centro cultural, casa, família...  Não a liguei no dia seguinte, porém deixei uma mensagem subliminar no recado que enviei ao grupo de teatro, avisando que me ausentaria esta semana – em resposta ao e-mail dela, que não frequentaria esta semana, pois a prova do mestrado se aproximava. À noite decidi aprender a tocar a flauta que minha avó me dera, há um ótimo professor no youtube. Também decidi retornar a São Carlos e para cá vim hoje pela manhã. Ela toca flauta.
                Hoje tive apenas uma aula, o professor faltara da segunda. Ou devo dizer ter tido duas, caso conte a aula de dança. Procurei por ela na biblioteca três vezes ao longo do dia. Na primeira ocasião, levava uma trufa de morango, que ficara em meu bolso até após o almoço, quando eu já constatara que havia derretido. A parte engraçada é ter guardado o celular no mesmo bolso.
                Na segunda tentativa eu ficaria a estudar por lá, porém meu touchpad decidiu não funcionar e retornei à biblioteca da engenharia. Na terceira tentativa, encontrei seu carro e agi rapidamente, num plano de repente, talvez genial, talvez não.
                Voltei à engenharia, liguei o computador, encaminhei para meu e-mail a partitura de uma música romântica que conheço, cuja banda por ela foi curtida no facebook. Fui ao xérox em uma das saídas do campus, imprimi, retirei o título e voltei para o alojamento.
                Lá, ainda em dúvida se eu deveria fazer o que planejava, procurei por uma fita adesiva – a essa hora a papelaria já deveria estar fechada – e, então, dentro de meu guarda-roupas, avistei aquele porta canetas e porta clipes que havia comprado e ainda não aberto, era embalado por uma folha plástica decorada e amarrada por uma fita de cetim, já com as pontas enroladas, em uma cor próxima ao rosa e ao bege.
                Enrolei as folhas da partitura no cetim e, para não ser visto com elas no campus e não amassá-las, guardei onde guardo a flauta que minha avó me dera. Atravessei o campus, temia não encontrar seu carro após ver algumas vagas livres. Então avistei, retirei as duas folhas da bainha da flauta, com certa dificuldade, pois o papel ficara preso por alguns instantes. Amarrei o cetim no limpador de parabrisas com as folhas enroladas e agora me encontro a contar essa história para jamais esquecer esses dias em que, como disse meu amigo na sorveteria, as coisas parecem ir tomando seu rumo e darem certo, complemento dizendo que são dias em que estou em diversos cenários, com diversas histórias, como  nos filmes, como enxergo a vida, que acontece como eu desejo.
                Abrir mão de uma vaga de emprego torna-se mais prazeroso que a conquistar, é sinal de maturidade, além disso, há uma chuva de oportunidades. Passear em São Paulo, entrar na Catedral – há um bom tempo não vou a uma missa – maravilhar-me com o centro cultural, as ruas do centro, as ruas do bairro, dirigir pela cidade, aulas, pesquisas, provas, apresentação teatral, dança, contar boas notícias, comer açaí, compartilhar açaí, olhar para o céu noturno sentados na grama, beijos no carro, braços, pescoço, rosto, boca, tocar pessoas, amar, fazer alguém feliz...



    Programo o blog para publicar este texto daqui há alguns dias, vou esperar o que vai acontecer antes de contar a notícia...



     Bem, hoje é 30 de novembro, volto ao texto, não o reli ainda, mas vim publicá-lo no blog...





























These days


                       Estes têm sido os melhores dias em São Carlos do Pinhal. Estou no sótão do alojamento da universidade, à noite e chove um pouco lá fora, deixando ainda mais bela a praça que trás às entradas das moradias. Acabo de chegar de uma lanchonete que, em textos de momentos especiais – como este – costumo chamá-la de taverna; estávamos em três amigos e havíamos passado a tarde a trabalhar em um projeto de uma disciplina, enquanto alternávamos entre músicas, falávamos de tudo quanto era assunto ou mesmo medíamos as envergaduras de nossos corpos em uma parede em uma competição proposta por outro morador do apartamento.
                       Nesta semana fiz aquela que pode ser possivelmente minha última prova nesta graduação e ela foi justa para representar esse papel: inteligente, curiosa, atraente, exigente, com cálculos, estimativas, reflexões, teorias e, sobretudo, trouxe de volta aquela sensação de uma sala cheia no dia anterior com todos me tendo como referência para tirar dúvidas, bem como nos minutos que a antecederam. Naquele dia, acordei cedo, um pouco antes de o celular despertar, o que fizera meu coração bater mais forte temendo estar atrasado; pude me controlar rapidamente, ensinar ao corpo que não há mais necessidade de desespero, que o mundo volta a serem flores, a cada dia mais belo.
                       Nesses dias, nós sentamos uma vez no palquinho e conversamos em paz junto a veteranos; ajudamos, como sempre, ou mais ainda, uns aos outros; conscientes de que em nosso grupo de amigos, que tão certo é, tão certo foi, tão certo tem sido, cada um a partir de agora tomará um rumo, alguns distantes, outros até semelhantes, embora não serão mais tão frequentes as noites a estudarmos, ou melhor, a muito descobrirmos, aprendermos e vivermos, em vésperas de provas, de trabalhos, etc. Assim já bate a saudade de jogarmos com nossos computadores em rede em comemoração, pingpong, baralho, magic, war... Tomarmos fanta de R$0,50 (hoje já R$0,60) em um dos bares da faculdade, comprarmos presentes de aniversário e tantas, mais tantas outras coisas que se as escrevesse pareceriam ter sido menos importantes, pois muitas vezes as palavras simplificam as aventuras vividas mesmo quando bem escritas – ah, e como as palavras podem ser belas.
                       O mundo também nos leva a conhecer novas pessoas e vamos ter de aprender novas piadas, as quais talvez não sejam tão belas, tão fantásticas, tão nerds, tão harmônicas como nossas piadas internas. E como pudemos conhecer uns aos outros, como os assuntos ganharam tanta profundidade como na universidade... Política, ciência, física, fé, existência, astronomia, brincadeiras, mulheres, comportamento, filosofia, músicas, engenharia...
                       Espero o toque na música... Agora, chora a guitarra de Within Temptation na noite nublada no sótão do alojamento, lembro dela, minha namorada, lembro do poema que escrevi, mais belo texto que já escrevi ou que já se escreveu no Brasil ou no mundo... Tenho de escrever aqui também que a amo, que não consigo sair de perto dela, que não consigo descer do carro ao pararmos em frente, que não consigo fechar os olhos ou abri-los sem pensar em estar com ela. A noite passada, as noites anteriores foram as mais incríveis, ontem já era hoje há três horas e eu não poderia dormir, apenas beijá-la e assim tocar nossos sentimentos, tocar, sentir, beijar todo seu corpo quente, ouvir sua respiração, transcender os sentidos físicos e estar com ela, ser com ela, sermos um infinito de amor.
                       Sim, esses têm sido os melhores dias em São Carlos, dias livres, dias novos, dias antigos, dias futuros, dias sábios, dias certos, dias tomados, dias aproveitados, dias vividos... Entrevistas de estágio, pesquisas em TCC, seminários, apresentações, fotos, textos, amigos, trabalhos acadêmicos, relaxamento, teatro, meu time de futebol voltando a brilhar, boas perspectivas para emprego, para ajudar meus pais, voltar a cursar inglês, academia, tocar violão, ler, compreender o espiritismo, perspectivas para ser feliz... Para sermos felizes, pois em todo pensamento ela, minha namorada, me vem e ela, minha avó, me vê, vê que nossos desejos vão dar certo.


Mediunidade em Fernando Pessoa

   Há alguns dias relembrava as obras literárias do ensino médio; hoje, entre ouvir uma e outra versão de Wuthering Heights (Morro dos ventos uivantes), converso sobre livros com minha mãe, abro meu armário de livros, noto na fila Mensagem, de Fernando Pessoa, folheio, deparo-me com um poema escrito por ele como ele mesmo, como um sinal de psicografica, de que muitos estudiosos desconfiam.

Súbita mão de algum fantasma oculto
14-03-1917

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo,que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Sobre o caminho para a felicidade

"Não existe caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho"
Gandhi
 
   Guardo certa lembrança dessa frase... Justamente dele?! Suponho que ele não gostaria nem um pouco de que suas citações fossem usadas em fins comerciais.
   Contudo, voltando da capital, cedo para dormir, tarde para iniciar atividades acadêmicas, atenho-me à frase.
   Apesar do chavão, tem certo sentido. Sensações são noções abstratas, com pouca regra, ordem ou rumo, indo e voltando; no máximo, uma galera aí tenta colocar umas cores para tentar conciliar.
   Já caminhos só existem para outros caminhos e outros e outros e a gente nunca chega, só avança; daí, não deveriam receber toda nossa atenção.
   Mas em um ponto eu me contradigo, pois há uns caminhos racionais, que levam a bases sólidas e, sem percorrê-los, muitos de nossos desejos ficam mais distantes.
   Acho que um exemplo explicará melhor o que quero dizer: passei a estimar certa menina, porém passarei a ter renda (estágio) a partir do próximo semestre, bem como ter ideia sobre qual cidade estarei ou o que estarei fazendo no próximo ano; até lá, tenho muitas questões a resolver na graduação, IC, TCC de modo que receio que não seja possível consolidar uma relação séria.
   Como você enxerga? Amor, atração são suficientes para firmar um namoro?

As 15 coisas que apodrecem a sociedade. Parte I

 
                Assisti há pouco o filme Jogos Vorazes. Parece estranho dizer isto: ele é muito bom porque faz com que o público sinta raiva e também por... Bem, antes de citar o segundo motivo, gostaria de expandir um pouco esse sentido de “público”. Pequena parte desse “público” sente raiva por se dar conta que está sendo parte ou convive com os personagens que aplaudem as atrocidades que ocorrem no filme (não coincidentemente a maioria dos membros dessa pequena parte trabalha, estuda, vive em meio a cenários, figurinos e objetos não públicos, porém privados  - que, apesar de ser chamado “privado”, são menos privados que os membros da outra parte). Já a maior parte desse “público” não compreende a metáfora que é o filme e sente raiva por considerar um filme ruim, de terror, sem ética. Assistam, entenderão melhor o que eu quis dizer. Assim é a questão da educação, poucas pessoas paradas na rua saberão explicar o que é metáfora (oxímoro então, bem poucas); no entanto vivemos em meio a grandes metáforas e jogos políticos e econômicos.
Digo agora o segundo motivo, meu segundo argumento em defesa de que o filme é bom: ele contém muitos dos elementos responsáveis pelos problemas deste mundo (miséria, desigualdade, capitalismo, ignorância, arrogância, bebidas...) e sentimentos (amor, saudade, dor, raiva, superação, timidez,...)  presentes nele, o que me motivou a criar uma lista das coisas às quais, atualmente, culpo pelo estado lamentável em que o mundo se encontra. Lamentável porque chego muitas vezes à conclusão que se é infeliz não por felicidade ser algo temporário, mas porque o estado da sociedade não permite o contentamento coletivo e isso se deve muito a "personagens" que não se importam.

1.       Coronelismo.
Estranho começar por algo que parece coisa do passado. Não me estenderei muito neste item, do contrário deixaria os demais de lado e escreveria páginas sobre a situação das câmaras municipais de muitas cidades que mantêm os mesmos vereadores há décadas e sobre a importância do investimento em educação para alterar este quadro, embora talvez nem isso mais baste, uma vez que ontem mesmo soube que um daqueles “candidatos palhaços” que se fantasiam, falam frases feitas ou sem lógicas e visitam bairros que, em dias “comuns” nem se aproximam é aluno da universidade mais respeitada deste hemisfério.

2.       Madames
Aqui entram outras variações, como as patricinhas e mauricinhos (aprendizes de madames). Espero com esta palavra abranger todo o campo de pessoas que vivem para si mesmas, defendendo teorias como “seja um idiota”, “ligue o foda-se”, sensibilizando-se com histórias tristes, mas jamais movendo uma palha para tentarem ajudar alguém em alguma situação, pois estão muito ocupadas assistindo a seus canais de compras pela TV – ou reality shows.
Cabe neste item minha explicação de por que não gosto de “festas”.  O porquê das aspas é por que sei que muitas delas (mesmo de faculdades) servem para financiar alguns programas (no caso de faculdades: os centros acadêmicos, secretarias acadêmicas, cursinhos mantidos por alunos, etc) ou servem de comemorações (vitórias, casamentos, formaturas, etc). Assim, refiro-me às festas que existem só por serem festas, que servem como desculpas para lascividade (vide item 3), que servem para lucrar, que servem para que todos esses aprendizes e aspirantes a madames joguem o dinheiro de seus pais (ou seus próprios) pelo ralo, quando poderiam fazer algo de útil pelo mundo que tanto critica (vide item 5; não, caros leitores, não é só por que você paga impostos que você está sendo solidário). Festas que servem para pessoas que acham que “Carpe Diem” significa sair por aí fazendo o que bem entende, vivendo para si mesmos. Também lamentável é que tanto os “coronéis” quanto esses que eu classifiquei de “madames” estão entre os que mais reclamam da situação do mudo.

3.       Covardia
Drogas, cigarro, bebidas... Para mim são apenas modos diferentes de se fugir dos problemas – o que se pode entender por covardia. Mano, na boa, pare para pensar, qual a utilidade de drogas, cigarro e bebidas? O governo coloca toneladas de impostos em cima de cigarros, faz campanhas, mostra os riscos e nem assim o povo para. Existem muitos tipos de pessoas e cada um com seus muitos problemas. Como válvula de escape, alguns praticam esporte; outros dançam, alguns pintam, escrevem, fazem teatro, escolhem algum modo de se divertir, de se realizar, de serem felizes e estarem afastados por alguns momentos de seus problemas. Muitos encaram e, muitos, escolhem hábitos covardes.

4.       Gordisse.
Não falarei deste item agora.

5.       Críticas ignorantes.
Como esses berros que alguns leitores dão depreciando o item acima por acharem que “gordisse” seja um preconceito com pessoas acima do peso, sem compreender o que eu realmente quis dizer com isso – uma expressão que, aliás, muitos conhecem. Aliás, parece que tudo é preconceito. Fale um A, ou um B, sempre vai ter aquele radical que vai ler, buscar uma teoria conspiratória lá do tempo da onça e através dela (da teoria, não da onça) distorcer completamente o que foi dito, explicando aos demais que o cara que disse “quis dizer” algo completamente diferente.
 Cabe aqui anexar dois adendos para diferenciar as duas explicações para “críticas ignorantes”:
3.1.   Crítica ignorante significa pseudointelectualismo, ser um “valentão da internet”, apressado que, sem compreender uma situação, ataca. Aqui lembramos o que eu disse sobre “metáfora” no início do texto. Cá entre nós, tem coisa na internet que dá mais vontade de vomitar que ler os comentários de reportagens ou do youtube?
3.2 O segundo porquê refere-se a situações muito conhecidas em política e em empresas. Já falei muito de política, darei um exemplo de empresa: um pessoal do marketing formado na Unesquina (logo, não me refiro a todos da classe) descobre que se iniciou a pesquisa (eu disse p-e-s-q-u-i-s-a) sobre uma nova tecnologia e logo lançam um comercial prometendo que a sua empresa lançará no próximo mês. Em seguida, criticam o grupo de engenharia por dizerem que para o próximo mês é impossível. “Vocês que são os engenheiros, o problema é de vocês, devemos vender no mês que vem ou a fábrica quebra” – como se construir um ônibus invisível com capacidade para 200 pessoas para rodar em vias comuns fosse tão simples quanto desenhar um anúncio para uma revista. Bem, acho que não preciso dizer o exemplo da política.

6.       ...
Continua na parte II.

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