Assisti há pouco
o filme Jogos Vorazes. Parece estranho dizer isto: ele é muito bom porque faz
com que o público sinta raiva e também por... Bem, antes de citar o segundo
motivo, gostaria de expandir um pouco esse sentido de “público”. Pequena parte
desse “público” sente raiva por se dar conta que está sendo parte ou convive
com os personagens que aplaudem as atrocidades que ocorrem no filme (não
coincidentemente a maioria dos membros dessa pequena parte trabalha, estuda,
vive em meio a cenários, figurinos e objetos não públicos, porém privados - que, apesar de ser chamado “privado”, são
menos privados que os membros da outra parte). Já a maior parte desse “público”
não compreende a metáfora que é o filme e sente raiva por considerar um filme
ruim, de terror, sem ética. Assistam, entenderão melhor o que eu quis dizer. Assim é a questão da educação, poucas pessoas paradas na rua saberão explicar o que é metáfora (oxímoro então, bem poucas); no entanto vivemos em meio a grandes metáforas e jogos políticos e econômicos.
Digo agora o segundo motivo, meu segundo argumento
em defesa de que o filme é bom: ele contém muitos dos elementos responsáveis
pelos problemas deste mundo (miséria, desigualdade, capitalismo, ignorância, arrogância, bebidas...) e sentimentos (amor, saudade, dor, raiva, superação, timidez,...) presentes nele, o que me motivou a criar uma lista das coisas às
quais, atualmente, culpo pelo estado lamentável em que o mundo se encontra. Lamentável porque chego muitas vezes à conclusão que se é infeliz não por felicidade ser algo temporário, mas porque o estado da sociedade não permite o contentamento coletivo e isso se deve muito a "personagens" que não se importam.
1.
Coronelismo.
Estranho começar por algo que parece
coisa do passado. Não me estenderei muito neste item, do contrário deixaria os
demais de lado e escreveria páginas sobre a situação das câmaras municipais de
muitas cidades que mantêm os mesmos vereadores há décadas e sobre a importância
do investimento em educação para alterar este quadro, embora talvez nem isso
mais baste, uma vez que ontem mesmo soube que um daqueles “candidatos palhaços”
que se fantasiam, falam frases feitas ou sem lógicas e visitam bairros que, em
dias “comuns” nem se aproximam é aluno da universidade mais respeitada deste
hemisfério.
2. Madames
Aqui entram outras variações, como as
patricinhas e mauricinhos (aprendizes de madames). Espero com esta palavra
abranger todo o campo de pessoas que vivem para si mesmas, defendendo teorias
como “seja um idiota”, “ligue o foda-se”, sensibilizando-se com histórias
tristes, mas jamais movendo uma palha para tentarem ajudar alguém em alguma
situação, pois estão muito ocupadas assistindo a seus canais de compras pela TV
– ou reality shows.
Cabe neste item minha explicação de por
que não gosto de “festas”. O porquê das
aspas é por que sei que muitas delas (mesmo de faculdades) servem para
financiar alguns programas (no caso de faculdades: os centros acadêmicos,
secretarias acadêmicas, cursinhos mantidos por alunos, etc) ou servem de
comemorações (vitórias, casamentos, formaturas, etc). Assim, refiro-me às
festas que existem só por serem festas, que servem como desculpas para lascividade
(vide item 3), que servem para lucrar, que servem para que todos esses
aprendizes e aspirantes a madames joguem o dinheiro de seus pais (ou seus
próprios) pelo ralo, quando poderiam fazer algo de útil pelo mundo que tanto
critica (vide item 5; não, caros leitores, não é só por que você paga impostos
que você está sendo solidário). Festas que servem para pessoas que acham que “Carpe
Diem” significa sair por aí fazendo o que bem entende, vivendo para si mesmos. Também
lamentável é que tanto os “coronéis” quanto esses que eu classifiquei de “madames”
estão entre os que mais reclamam da situação do mudo.
3. Covardia
Drogas, cigarro, bebidas... Para mim
são apenas modos diferentes de se fugir dos problemas – o que se pode entender
por covardia. Mano, na boa, pare para pensar, qual a utilidade de drogas,
cigarro e bebidas? O governo coloca toneladas de impostos em cima de cigarros,
faz campanhas, mostra os riscos e nem assim o povo para. Existem muitos tipos
de pessoas e cada um com seus muitos problemas. Como válvula de escape, alguns praticam
esporte; outros dançam, alguns pintam, escrevem, fazem teatro, escolhem algum
modo de se divertir, de se realizar, de serem felizes e estarem afastados por
alguns momentos de seus problemas. Muitos encaram e, muitos, escolhem hábitos
covardes.
4. Gordisse.
Não falarei deste item agora.
5. Críticas
ignorantes.
Como esses berros
que alguns leitores dão depreciando o item acima por acharem que “gordisse”
seja um preconceito com pessoas acima do peso, sem compreender o que eu
realmente quis dizer com isso – uma expressão que, aliás, muitos conhecem.
Aliás, parece que tudo é preconceito. Fale um A, ou um B, sempre vai ter aquele
radical que vai ler, buscar uma teoria conspiratória lá do tempo da onça e
através dela (da teoria, não da onça) distorcer completamente o que foi dito, explicando
aos demais que o cara que disse “quis dizer” algo completamente diferente.
Cabe aqui anexar dois adendos para diferenciar
as duas explicações para “críticas ignorantes”:
3.1.
Crítica ignorante significa pseudointelectualismo,
ser um “valentão da internet”, apressado que, sem compreender uma situação, ataca.
Aqui lembramos o que eu disse sobre “metáfora” no início do texto. Cá entre
nós, tem coisa na internet que dá mais vontade de vomitar que ler os comentários
de reportagens ou do youtube?
3.2
O segundo porquê refere-se a situações muito conhecidas em política e em
empresas. Já falei muito de política, darei um exemplo de empresa: um pessoal
do marketing formado na Unesquina (logo, não me refiro a todos da classe)
descobre que se iniciou a pesquisa (eu disse p-e-s-q-u-i-s-a) sobre uma nova
tecnologia e logo lançam um comercial prometendo que a sua empresa lançará no
próximo mês. Em seguida, criticam o grupo de engenharia por dizerem que para o
próximo mês é impossível. “Vocês que são os engenheiros, o problema é de vocês,
devemos vender no mês que vem ou a fábrica quebra” – como se construir um
ônibus invisível com capacidade para 200 pessoas para rodar em vias comuns
fosse tão simples quanto desenhar um anúncio para uma revista. Bem, acho que
não preciso dizer o exemplo da política.
6.
...
Continua na parte II.
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