Eu
quero escrever um texto capaz de alterar o ritmo cardíaco do leitor, capaz de
mudar comportamentos, de transformar a sociedade. Quero um texto que seja um
portal para o interior de cada leitor e que ao mesmo tempo o fizesse realmente
compreender o interior das personagens. Será que todo escritor tem a mania de
não se satisfazer com seu texto depois de pronto, será que eles não estavam
mesmo bons ou será que os leitores se distanciaram tanto assim da fantasia?
Fantasia,
era como estava classificado um de meus livros favoritos da infância, O Reino
de Muito Longe, lido uma vez em um dia com poucos alunos na escola (reunião de
pais e mestres ou de professores possivelmente) e recuperado anos depois em um
sebo na avenida Nove de Julho, através da estantevirtual.com. Quero escrever um
texto em que o leitor mergulhe dentro e saia somente depois de saborear cada
sílaba, sem se preocupar com o tempo, com o número de linhas ou páginas para
seu término. Quero um texto que sirva de perdão, um texto que conquiste.
Talvez
seja pela proximidade com esse mundo fantástico que considero o Natal como a
melhor época do ano, movimento de pessoas, despertar de sonhos; despertar sim,
no sentido de serem relembrados. Natal para muitos coincide com férias e férias
com época em que são deixadas de lado as obrigações e nos lembramos de nós
mesmos, de desejos que os muitos compromissos nos impediram. Em particular, ontem
(agora, anteontem) me encontrava em paz retirando terra de um canteiro para o
plantio de árvores e, desde alguns dias, tentando escrever um conto de natal.
Gostaria de aproveitar o parágrafo para registrar que Um Homem de Família é meu
filme favorito entre os que se passam nessa data.
Família.
Algo que me deixa irritado é o quanto pessoas reclamam demasiadamente. Sobre a
data, refiro-me a duas formas de reclamação: é possível que eu já tenha
criticado aqui no blog a atitude da imprensa em promover o consumismo
esquecendo-se do real sentido natalino; hoje chamo a atenção ao radicalismo,
tenho lido comentários que criticam a abundância em ceias natalinas e alguns,
por mais radicais que pareça, criticam pessoas e prefeituras por gastarem
dinheiro com iluminação de natal quando poderiam doar cestas básicas. Quero
afirmar o contrário, neste domingo de Natal eu não almocei, não morri por causa
disso, nem precisei “tuitar” esse detalhe, mas, por favor, não me deixem sem as
luzes no Natal, cestas básicas não resolvem os problemas do mundo, luzes sim.
Portanto, sinto falta de tolerância. Talvez nada me irrite mais que madames e
desperdícios, mas que a humanidade se empanturre nas ceias, que as crianças
tenham, ao menos um dia, doces e luzes.
A
outra reclamação que pretendo criticar (criticar críticas parece um tanto
contraditório, por isso pretendo parar por aqui) são os retornos de parentes
para casa, daqueles em cujos carros se discute roupa de um, casamento de outro,
será que não se pode, no mínimo guardar este tipo de comentário para si? Eu,
autor aqui deste texto no blog, tenho o que já posso considerar dom em não me atentar
ao que é inútil ser notado, olhar o lado apenas o lado bom da vida belo da vida
não é apenas uma frase “fofa”. Por que dizer que uma árvore é feia se é tão
bonito uma árvore ser uma árvore? Não tem a ver com desatenção, pois descubro
cada xícara nova que aparece em casa, e as admiro por serem xícaras e, se
presentes, por serem presentes, independentemente de qual sensação poderia
significar um possível olhar diferente realizado por aquele que presenteou. Há,
assim por cima, quatro tipos de celebração natalina em família: parentes realmente
unidos, parentes que se reúnem por terem de se reunir, famílias que não
conseguem se reunir e pessoas que ficam sozinhas. Aprendi que quando se força
um desses casos possivelmente não funciona e alguém se entristece.
Natal
é minha época favorita do ano. Como ocorre no final do ano, é agradabilíssimo
que a melhor semana de cada ano seja a última e que se siga uma semana melhor
que a outra, assim como eu costumava repetir diariamente no ensino médio que o
hoje é o melhor dia de minha vida, e eram.
Venho de duas famílias, uma marcada
pela miséria, injustiça e alcoolismo, outra marcada pelos esforços de uma avó
solteira que teve de cuidar de quatro filhos. Suas histórias poderiam ser
escritas em livros e eu pretendo contar também aqui pelo blog, talvez seja
justamente a história de minhas famílias este texto que eu quero tanto
escrever, capaz de mudar comportamentos e transformar a sociedade. É mais
difícil escrever quando as dores são reais.
Neste texto, pretendo chegar ao
tema amor, por isso possivelmente eu o envie a certa garota que talvez esteja
lendo agora (e seja a única pessoa que lerá tudo isso). Portanto, desta vez,
deixemos as descrições mais resumidas e continuemos a dissertar. Possivelmente
não é surpresa para ela que eu tenha chegado a esta cidade em... Dizer da
infância pobre parece apelação, afinal, perto do remanescente da família, sou o
primo rico e, desconsiderando aspectos financeiros, talvez eu seja a pessoa
mais rica do mundo. Não quero que sinta pena, então chamemos o advérbio enfim.
Enfim, por ter tido a oportunidade em nascer onde nasci, posso ter uma vida de
evolução positiva, daí a concluir a cada dia do ensino médio ser o melhor dia
de minha vida. Mesmo que algo não tenha dado muito certo, ainda teria a
lembrança do ontem e isso me faria estar no melhor dia de minha vida.
Como prometido na última
postagem, falarei de amor e de conquista. Conquistar um coração é algo que me
parece às vezes tão ridículo, outras vezes não me parece fazer sentido. É
tomado como “olha para mim, você precisa de mim” e nesta dança se incluem
trocentos jogos e táticas. Isso torna necessário que provemos “olha para mim,
eu sou uma pessoa boa de verdade” e esta necessidade me é lamentável.
Encaixarei aqui uma analogia,
sou estudante da melhor universidade latino-americana e na cidade em que estudo
há outra universidade conhecida e que usa o nome da cidade. Daí, se digo o nome
da universidade em que estudo, pareço convencido; se digo que estudo em tal
cidade, então logo perguntam se se trata da outra instituição. Ou seja, pela
segunda vez neste texto, não é que as pessoas julgam demasiadamente, elas
julgam erroneamente. Quando digo o nome de minha universidade não estou dizendo
“abaixe a cabeça, eu sou melhor do que você”, estou apenas respondendo à
pergunta sobre a universidade. Do mesmo modo, dizer “olha para mim, eu sou uma
pessoa boa de verdade”, parece significar “e aí gata, tá afim?”, ô mania de se
distorcer as coisas, por isso que prefiro ciências exatas. Se eu digo que
escrevi este texto em algumas horas da madrugada, apenas estou dizendo que
escrevo este texto em algumas horas da madrugada, não o reescrevi, nem o venho
escrevendo há dias, não quis dizer “oi, eu sou f..., pois escrevi tudo isso em
pouco tempo, não preciso de revisão”.
Paremos de escrever sobre essas
coisas chatas, pois já não deve haver ninguém lendo a essa altura, no entanto
não apagarei os últimos parágrafos – e também paremos de metalinguagem e
voltemos ao assunto.
Outro dia, possivelmente amanhã,
eu continue. Boa noite.
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