Na Avenida Lisir Eva...

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Sobre meninas e mulheres


Hoje é uma noite interessante, festa junina, uma festa bonita, de nossa cultura; frio, fogueira, histórias que esperam ser guardadas por toda a vida... 

   Na engenharia, porém, as histórias não são bem como nos filmes de faculdade e os estudantes sabem disso. Dormi por umas três horas e meia entre quinta e sexta-feira; outros devem ter dormido menos. Acordei preparado, como se estivesse retornado aos “tempos de glória” do ensino médio, mas as provas aqui não perdoam. Acredito ter passado, mas é como se fosse o mínimo que devemos fazer. Comecei a estudar no início do semestre e não parei, não me lembro de ter tirado um dia ou uma hora de descanso.
 
Lamento dizer, calouro,
mas faculdade não é nada parecido com suas versões no cinema

Pode soar contraditório, pois um dos tópicos do texto é quase que oposto a descanso, por isso explico: descanso = ato de descansar, uma folga de quando se está cansado; diferente de procrastinar ou vadiar. E então chegamos ao primeiro tema do texto.
Às vezes tenho a impressão de que quase o mundo todo se faz e é feito de otário, mas não sabe. Como disse um professor – quem, aliás, aprovou menos de 40% da turma – “quando não estamos sendo enganados estamos tentando enganar”. Furar fila, chorar nota, esconder-se da receita federal... De repente pessoas concordam com ideias como que por status ou moda. Tomemos, por exemplo, cotas; se há uns cem anos os avôs de uma parcela do povo foram escravizados e hoje se deseja desculpá-los, o que privilegiar negros em faculdades tem a ver com isso? Que o governo doe terras, isente de impostos, não consigo entender qual o sentido de misturar ensino com isso. Se bem que ensino é o que há de mais marginalizado no país. Hoje mesmo, conversando com um intercambista do Congo, descobri que até lá no meio da África o ensino médio é superior ao brasileiro e me dei conta de que realmente falamos muito e desenvolvemos pouco.
Vim de uma cidade de convencidos. É uma pena, pois a cidade é linda, tem história e potencial, mas na verdade é como aquele cachorro de raça que não sabe o poder que tem e se orgulha por qualquer outra coisa menos importante. E o que tem de grande em Ribeirão? Hospitais, é verdade, mas festas, eventos, shoppings com desfiles de futilidades... Dificilmente consigo ver sentido em festas se não for por uma comemoração, fico perdido, sem saber o que fazer com os braços; então olho ao redor e vejo que os outros os usam para segurar bebidas. Não bebo e descubro que não sei realmente o que fazer, por não se ter realmente o que fazer em uma festa sem sentido. Olho novamente ao redor, rapazes procurando mulheres; mulheres fazendo o famoso “cu doce” e por aí vai o cenário tão difícil de compreender.

Por que raios um prédio no interior paulista precisa se chamar "Times Square"?
Hoje, porém não foi por isso que vim embora. A festa junina do alojamento é a única da faculdade voltada a pessoas de fora, funcionários do campus, famílias, intercambistas, ex-moradores... Toca forró e pode-se dançar. Na verdade não sei por que essa vontade de ir embora; agora, pensando bem, poderia ter convidado uma colega para dançar e quem sabe ter conhecido aquela menina com a máquina fotográfica. A princípio, realmente não estava a fim desses jogos de conquista, fui para comer alguma coisa e recomeçar a ler alguns artigos dum projeto que há tempos não trabalho. Aliás, as últimas semanas com provas me afastaram dos demais grupos da faculdade dos quais participo. Voltei e cá fiquei a escrever, voltei a escrever depois de tanto tempo apenas palestrando em pensamento.
O que você sabe construir?
 Minha cidade já teve grandes indústrias. O Brasil já teve indícios de indústrias. Hoje começamos a sentir que no futuro seremos completamente dependentes de tecnologia estrangeira. Afinal, o que produzimos? Não existe uma empresa 100% brasileira, nossos parafusos vêm da China. Máquinas, instrumentos, nossa indústria se limita a montadoras com capital externo, que, aliás, compram aço brasileiro no exterior por ser mais fácil trazer de lá do que da cidade vizinha. O Brasil não fabrica um único componente eletrônico e ainda assim se insiste em dizer que nos desenvolvemos, que somos o melhor entre os pobres, grande orgulho.
Portugal retirou tanto ouro brasileiro que gerações acreditavam que a riqueza nunca acabaria. Chegaram a não produzir nem mesmo alimentos enquanto folheavam carruagens a ouro. Assim perderam a revolução industrial e hoje é o país mais pobre da Europa e só ainda são “primeiro mundo” por viverem no quintal do primeiro mundo.



Alguns brasileiros não tiveram grandes oportunidades na vida (a maioria, na verdade) e se preocupam na inocência da ignorância com a novela das nove. Outros criticam os que se preocupam com as novelas, criticam o país enquanto mergulham em teorias ainda mais fúteis que mais ainda mancham sua imagem (essa está se tornando a nova maioria, pseudonerds, valentões dos teclados, rebeldes por prazer e não por ser a coisa certa a se fazer). Sem contar as diversas tribos urbanas que me dão nos nervos. São elogios demais para trabalho de menos.
Ou seja, voltamos aquela velha história de que quando se inventa algo que até um idiota saiba mexer, este algo será usado do modo mais idiota possível; porém não me refiro a um ou outro alguém, refiro-me a você caro leitor, coragem.
Assim minha cidade é uma menina mimada que se veste de histórias de quadrinhos japonesas e se revolta contra coisa nenhuma, filha de uma madame e de um corno coitado que luta e tem seu trabalho desprezado.
Longe de ser conservador, mas mudar as leis erradas não faz o país andar para a frente. Pelo menos, quanto ao executivo municipal tenho mais aplausos que críticas; a nível estadual, não bato meia palma desde, desde que entendo alguma coisa de política.

 
Ontem choveu flores de Ipê em uma esquina, fizemos prova, recebemos notas de outras disciplinas, terminamos um trabalho de meses e hoje pude acordar sem precisar do despertador, após o final das semanas tensas de final de semestre – que ainda não acabou, aliás, devo dormir para amanhã cedo nos reunirmos para os estudos de uma última prova.
No entanto, eu começo a dizer sobre o que dá título à postagem, sobre meninas e mulheres. A tal moça com a máquina fotográfica na festa junina, seguiu-me, pediu para tirar uma foto e apresentou o cartão do site. Como disse, fiquei por pouco tempo na festa e poderia ter ocorrido uma história interessante, a começar por ela possivelmente ter mentido sobre estudar na universidade vizinha. Bonita, menina, perdida, como meninas que não sabem ao certo o que fazer, choram, sentem-se idiotas, arrependem-se, pensam e sonham abraçadas a travesseiros.

Uma menina
Eu prefiro elas àquelas gatas de botas, prefiro histórias, romances, dúvidas, coração batendo. Não sei se me apaixonaria por mulheres certas de si ou engenheiras de produção – posto que é o único curso com quase bastante mulher no instituto, difícil me apaixonar aqui, aliás, uma das lamentações da faculdade é passar a juventude longe de paixões.

Uma mulher

 
A seguir copio o que escrevi há alguns dias no bloco de notas sobre um reencontro. No dia não pareceu tão meloso.

Ouvi um som ontem à noite no ônibus,
não me lembrava de toda a letra,
porém o cantor dizia: não chore esta noite, eu ainda te amo, garota.

Então eu imaginava e imagino o que aconteceria se eu tivesse falado com você naquela época,
aceitado, vencido a barreira entre a infância e o romance
talvez ambos de nós não seriamos quem nós conhecemos,
mas poderíamos ser mais felizes se...?

Eu sou feliz agora e desde aquele tempo, apesar de algumas tristezas pela vida,
e você... Eu não sei se você está tão feliz quanto naquele tempo (e lamenta aquele tempo)
mas seu namorado lhe faz sentir melhor. Daí me pergunto se eu também faria.

Seu nome é provavelmente o que mais repeti em toda esta vida,

É tão estranho e belo quando reencontramos alguém depois de tanto tempo;
desta vez trabalhando em um projeto de uma manhã,
estaríamos lado a lado, eu deveria ter feito questão,
o que não seria tão difícil, pois estava um pouco que na condição de seu superior.

Foi justamente em uma manhã corrida,
ah, mais uma vez eu podia ter feito tudo diferente,
e ainda espero que possamos um dia tomar um chá e falarmos horas sobre a vida,
porém tu, apenas tu me traz essa sensação de bobo,
apesar dos cursos, aulas, palestras sobre como falar em público,
apesar de ser ator e representante,
do cuidado com o idioma,
da posição social,
continuo um bobo, solitário, doente, perdido, quando próximo a você,
porém são nesses momentos que chego mais próximo de meu interior,


Sabe, tavez "passageiro" seja a melhor analogia com a vida,
a história do trem, uma estada em uma rodoviária,
rever alguém após muito tempo,


Menina e mulher

 
Imagens: dipity.com, mapdata.com.br, flickrhivemind.net, edirpina.recantodasletras.com.br, nickelodeon, sabetudo.net, theteenageroyalty.blogspot.com

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