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Nosso terceiro mundo


“Terminar o momento, encontrar o final da jornada em cada passo do caminho, viver o maior número de boas horas, é sabedoria”.
Ralph Waldo Emerson

   Quarta-feira, aula de Humanidades, diz o professor que Johann Wolfgang Von Goethe defendia a ideia de que o iluminismo trouxera mais mal que bem com dois exemplos: a revolução francesa trouxe Napoleão, que, por sua vez, trouxe muitas mortes; a revolução industrial trouxe um capitalismo predador.
   E as luzes da revolução iluminavam as cidades, o noturno urbano agora era penumbra e a violência quem sabe um dia desaparecesse.
   Não senhor, não direi chega de relatórios e normas, não direi chega de horas e horas de aulas às vezes incompreensíveis, às vezes carentes de comprometimento, não direi chega de provas injustas.
   Contudo, Schopenhauer, se o senhor nos visse hoje, concordaria com Hegel, teses e antíteses se reúnem sem conflitos e podem harmonizar-se. Spencer, o homem ainda não é perfeito. Aula de Humanidades, filosofia no século XIX, Ralph Waldo Emerson, um dia desses resolvemos uma equação transcendental na disciplina Transferência de Calor e Massa, mas não muito tinha a ver com liberdade, a não ser com a liberdade que o diploma teoricamente nos presenteia.
   Hoje estou apaixonado, principalmente por alguém, ainda que por todo o mundo, por cada um que encontro nas ruas, salas, bibliotecas, restaurante, farmácia, pensamento... Amor, um pedaço desse emaranhado indescritível de sentimentos no ator quando é aplaudido em cena muito antes do final do espetáculo.
   Esse grupo me esquece a dor perpétua da não-finalização, mas sempre em um topo, topo após topo, e o “obrigado” parece tão pueril para agradecer... Quero outras, preciso de palavras de outro mundo. E em se tendo um segundo mundo, é ser especial, um mundo criativo, a arte que não é imitação, o espetáculo que transcende os mundo e invade convidativamente os mundos particulares de cada um, chama-os para dançar e os impressiona.
   Eu olhei pela janela do trem enquanto todos se atropelavam e vi outros mundos e outros caminhos em outras dimensões além do trajeto único de afazeres únicos que nos trancafia nesse vagão chamado engenharia para mercado de trabalho no trilho universitário.
   Então posso sentar em um banco, em outro, em uma rede, observar as estrelas em cima do vagão e, em vagões fantásticos, com palcos e coxias, estar em um n-ésimo mundo, invisível aos gráficos cartesianos, onde me deito em sua aura e a sinto, o que deseja, como deseja, sinto sua graça e cada detalhe de seu corpo, das pintas à rigidez dos seios, posso tocá-la, posso senti-la, posso ser o centro de sua vida e maravilhá-la como quiser, mas nesse nosso mundo, independentemente de razão ou subjetividade, independentemente de dimensões; por enquanto, só em nosso mundo entre palcos, ensaios e coxias.

15h45min, aula de humanidades no dia de estrela, após sucesso da apresentação.

Imagem: Valdeville theater after rain by ~ricardomassucatto, DeviantArt 

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