Na Avenida Lisir Eva...

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A fragmentação da oposição (ou por que os movimentos não dão certo)


Recebi há pouco um texto da revista Carta Capital, no qual o autor chama de clichê o repúdio da sociedade diante o BBB e reforça que as críticas ao programa através de redes sociais é um modo das pessoas “parecerem mais interessantes”. Este, ainda que não seja um comentário absurdo, levou-me à seguinte consideração: a palavra “discórdia” talvez responda o porquê de movimentos políticos não funcionarem além da internet no Brasil.
Surpreendeu-me que este comentário tenha vindo da revista Carta Capital, publicação de esquerda contra tudo que venha da Globo, do PSDB ou da Veja. Ora, quem é contra BBB é alienado e quem é a favor quer se aparecer?! Se o objetivo do autor fosse criticar um comportamento de quem quer parecer descolado, poderia ter usado discussões vãs como as muitas que lemos sobre sertanejos e bandas coloridas.
Já deve ter ocorrido com você durante a infância, algum garoto inventa algo legal, outro espalha para a sala toda e, de repente, o primeiro passa a ficar contra ou com uma necessidade absurda de contar para todos, principalmente para aquela garota loirinha do canto, que a ideia foi dele.
Leio A Fúria dos Reis, de George RR Martin, segundo livro da série Crônicas de Gelo e Fogo, d’onde retiro dois argumentos: primeiro que o exército (a massa) nunca sabe os porquês da lutas em toda a complexidade das mesas de discussões, ainda assim são os que tomam a frente.
Assim chegamos à questão da USP, poderia me estender bastante por aqui, visto que a maior parte da população não compreende os protestos (e ainda assim cada um tem sua palavra final), no entanto utilizo do exemplo para destacar que coube a um grupo marginal o estopim enquanto o resto do mundo ou desconhecia ou discutia detalhes.
Não consigo, abrirei um parênteses (ou um parágrafo) para resumir o caso USP. Alunos contra a presença da polícia militar no campus, pois tal instituição funda-se na resolução de qualquer problema ou qualquer candidato a problema na base do tapa, três exemplos: a repressão à manifestação contra aumento na passagem de ônibus no Piauí (vídeo 1), as revistas à porta da biblioteca de filosofia e a utilização de mais policiamento para prender estudantes do que para prender o principal traficante da Rocinha (no que se inclui cavalaria, canil, batalhão de choque e esquadrão antibombas).
O segundo argumento que extraio do livro A Fúria dos Reis é sobre complexidade. O povo cortou o pescoço do rei da França, os brasileiros derrubaram Collor, episódios que pareciam ser o bem contra o mal. Em A Fúria dos Reis há quatro exércitos diferentes tentando derrubar Joffrey, cada um com seus motivos. Conforme ficamos mais espertos, conhecemos novas opções e o mundo fica mais confuso.
 Cansei de escrever sobre política por ora, pulemos para a conclusão. A palavra discórdia vem do latim, a definição que mais se adequa a este texto é “desunião de vontades”, enquanto o “mal” age à sua maneira (pensando ou não), o “bem” discute demais; como poucas atitudes são perfeitas, o “bem” perde tempo em criticar seus próprios aliados; daí, a parada gay tem mais adesão que a marcha contra a corrupção (lembrando que o movimento não deu certo em Ribeirão principalmente por que membros do PSDB entraram no meio como se fossem os organizadores)

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