Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
Carlos Drummond de Andrade
Noite em Ribeirão Preto - SP; a cidade como cenário da poesia contemporânea. No primeiro, NY; no segundo, as cidades serranas e, no terceiro, Ribeirão. |
Piedade, Senhor
Piedade, Senhor, para essa gente
A quem dotaste de precária sorte,
Que no flagelo com a dona Morte
Tão indefesa vai bater de frente!
Que lá em Cima, onde está presente,
Encontre ao menos algo que conforte,
Um curativo pro profundo corte
Exposto nalma de cada parente!
Que conformados com desígnios Teus,
Encontrem forças nos transtornos seus,
Embora sintam os corações partidos...
Que chegue junto com a conformação,
A luz que acenda essa compreensão
De entre tantos serem os escolhidos...
Piedade, Senhor, para essa gente
A quem dotaste de precária sorte,
Que no flagelo com a dona Morte
Tão indefesa vai bater de frente!
Que lá em Cima, onde está presente,
Encontre ao menos algo que conforte,
Um curativo pro profundo corte
Exposto nalma de cada parente!
Que conformados com desígnios Teus,
Encontrem forças nos transtornos seus,
Embora sintam os corações partidos...
Que chegue junto com a conformação,
A luz que acenda essa compreensão
De entre tantos serem os escolhidos...
José Riomar de Melo
A abandonada personificação de meu interior, Feliz Aniversário.
Meu nome, anagrama do normal
E tanto fujo desse interior
que não percebo o sincero, o cabal
no tempo ocupado e vida incolor
Dela, a personificação de mim
É tão livre, apaixonada, é tão Clara
Era. Até que eu a deixasse assim
Por frio, vergonha, tão longe, tão fraca
Então sugo seu amor com vil beijo
E amargo sua história quão bonita
Vícios deixo. Desculpas, desaprendo
Também não sei se é por culpa ou afeto
Desejá-la, todavia permita
Que eu deseje Feliz Aniversário.
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