Sabe aquela
sensação de voltar para casa após sete anos? Não, talvez não a conheça, mas
talvez a consiga imaginar. Quando entrei na faculdade, ou talvez antes disso,
passei a consentir que vivia no futuro, afinal, a pergunta na infância era: “o
que quer ser quando crescer?”. E então andava pelas ruas do futuro, com carros
mais modernos que os daquele tempo, com wi-fi, computadores, facebook, vida
universitária em uma universidade de primeiro mundo e tantos detalhes que me
fazia sentir no futuro do passado.
Esta semana fiz
duas apresentações em um painel de processo seletivo de estágio; em uma delas,
apresentação pessoal, disse estar em um período de transição rumo a uma nova
jornada, sem abandonar todo o trajeto vivido até aqui. Acontece que percebo
agora que esta transição é mais do que apenas uma mudança de cidade. Estamos em
dezembro e já entreguei meu último trabalho da graduação neste semestre; para a
formatura, é preciso cursar uma disciplina, concluir o TCC, uma iniciação científica
e as horas de estágio, assuntos que são candidatos a se tornarem prioridades a
partir deste dezembro. Dizia – e digo – que assim que acabasse essa correria da
graduação em tempo integral eu voltaria a fazer algumas atividades de que tenho
vontade, como aulas de inglês, tocar violão, flauta, talvez violino, aprender
mais sobre o espiritismo, quem sabe participar mais ativamente, usar parte do
dinheiro do estágio em projetos sociais, mesmo que seja presenteando crianças
nas ruas, reformar a casa e voltar para a academia a fim de ficar um pouco mais
fortinho para a namorada. A ideia era essa, ainda é, eu voltaria para a cidade
da faculdade aos finais de semana para vê-la; às segundas terei aula e cuidarei
das partes práticas do TCC e entre terça e quinta faria estágio em terra natal.
No entanto ela disse que não era amor e, embora seja a melhor garota que eu
conhecera nesses últimos anos, ou quem sabe na vida; de fato, eu não passava os
dias em transe, sem me concentrar em qualquer outra coisa; porém concebia o
encanto, imaginava o futuro, imaginava que era preocupação demais com os
deveres e que a tranquilidade que viria em breve faria com que ela se tornasse
minha prioridade. E quando possível eu inventava o que a poderia surpreender. Faltou
sentir a fundo aquela preocupação sobre como ela estaria a cada segundo longe
de mim, mas ela viajou ao sul e eu não vejo nenhum problema nisso. Ou seja,
faltou a paixonite, aquela pitada de tempero desconhecido e incompreensível,
pois, ademais, tudo parecia dar certo e achei que esse modo de amar fosse sinal
de amadurecimento. Preciso aprender a diferenciar amadurecimento de falta de
paixão. E mesmo quando ela disse se
tratar de amizade, mostrou-se ainda mais próxima da garota perfeita, que ama o
mundo e busca o príncipe encantado.
Então volto para casa, não faz sete anos, apenas
alguns dias. Mas de repente é como se fosse. Há sete anos eu estava na oitava
série, tinha minha avó e nós e toda a família mergulhávamos no espírito de
natal. Volto a sentir a presença do natal, volto a andar no centro da cidade
pelo natal, retorno ao shopping desde há muito tempo, volto a montar a árvore
de natal; minha mãe encontra os pisca-pisca no quartinho dos fundos e ficaremos
a nos maravilharmos com as luzes na árvore. Passo o sábado em frente ao
notebook e agora, quase madrugada, chego quase ao final do relatório parcial de
trabalho de conclusão de curso. Os dias são
quentes, de quentes a insuportáveis, estou no chão do quarto ao lado do
ventilador comprado hoje por minha mãe; de repente percebo que é mesmo uma
transição, não me parece mais que vivo no futuro, mas como um retorno aos
cenários do passado, porém os cenários mudaram, as pessoas mudaram (algumas partiram
a outros mundos), mudaram algumas de cidade, algumas a elas mesmas; outras
reencontram a felicidade. E volto para casa, pretendo estar de volta em casa agora.
Queria ir ver minha garota, quem sabe ainda nos apaixonemos. Férias (férias
entre aspas, tenho a iniciação, o TCC e os processos seletivos), rumo ao último
ano de graduação, ruma a uma nova jornada, de volta para casa, de volta aos
cenários conhecidos, mas como novos cenários, pessoas conhecidas, pessoas
amadas e novas pessoas. Feliz dia de Nossa Senhora da Conceição.
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