Uma rua deserta e anjos de natal
é o que restou? Madrugada de 30 de novembro e eu não tenho pensamentos. Queria
que as palavras fossem mágicas, mas palavras são palavras e pessoas são
humanas, as palavras não se arrancarão das páginas e viajarão pelo passado e
pela distância a fim de reconquistar e recuperar o que perdi.
Uma
rua deserta na madrugada e anjos de natal que iluminam um pedaço do mundo.
Natal, uma data que ilumina um pedaço do ano, uma data que salva, sempre minha
data favorita, mas mal posso ouvir essa palavra e a repito, e a repito.
E
os pensamentos são opacos, como a lua desse 30 de novembro e a rua deserta com
seus anjos de natal. Onde antes passavam os anjos de Natália.
Onde
antes passavam tantos sonhos, onde hoje o que restou é uma rua deserta e seus
anjos de natal. O antes... O antes era a grama, a lua, as estrelas e a distância
éramos nós, distantes dos problemas do mundo, sentados no gramado do campus. O
antes era o beijo ao som ao vivo de Lenine, como em filmes, como trilha sonora,
como protagonistas, como o par romântico, como o que levaria ao felizes para
sempre. Antes eram os melhores dias, diria o melhor ano na universidade. Antes
era a partitura deixada em seu para-brisas, o jantar em sua casa, a comemoração
por ter passado no mestrado e os beijos, toques e abraços pela madrugada,
quando evitávamos o sono e eu desejava que o tempo não passasse ou, se
passasse, que fosse ali, daquele modo, nós dois e os bancos do carro.
Hoje
a música são os leves toques de Debussy, Beethoven e Chopin no piano triste na
internet. Hoje é a despedida, hoje é apenas uma rua deserta, os anjos de natal
e as lembranças. Lembranças da partida de quem mais me amou, lembranças da
despedida de quem amei... E fica assim, opaco ou vazio, como uma rua deserta
com a lua escondida. Sem rumo, com seus amigos se dividindo rumo a vários
continentes, sem emprego, sem saber se voltarei para casa ou terei uma vida
corrida em uma grande cidade ou em uma cidade qualquer liderando pessoas com
vidas corridas para que um dia liderem pessoas com vidas corridas até que só
haja corridas e não haja vidas.
Mas
veja que a ciência me chama e as palavras querem ser escritas, estou na capa do
jornal. Meu texto na capa do jornal e outros resultados que me orgulham, mais,
bem mais que o diploma, o que levo da universidade são comentários como “orgulho
de conhecer essa figura”, parabéns e tantos elogios. É o que se leva, as
recordações, de palavras, de toques, de sensações, de sentimentos, de vitórias,
de derrotas, de alegrias, de tudo, as recordações. Ademais, é uma rua deserta,
sem saber para onde ir, o renascimento e os anjos. Uma rua deserta e os anjos
de natal.
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