Na Avenida Lisir Eva...

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Quaresmal

Qual é a importância de ler isto?
Diga logo que também não te importas
Parecerás só mais alguém normal
E mais um perdido, entre os vis, mas


põe teu santo, toma teu chá e acordas
do mundo que esfacela lá na porta
tecal¹ que não encontro paz a mais
mas essa mosca² que nos fere e atrais


Veneno teu corrompe, mas resisto
Não só me corta a pele ou mata: corta
dentro da alma, e faz lesão modal


Doença, vejo só, brilho corisco³
Do outro, incerto existência fosca
E temo, pois se cura achar jamais


¹ relativo a teca, invólucro protetor 
² praga que passa a ser o interlocutor dos versos oito e nove.
³ Brilho nos olhos indicativo de cólera


Sobre o tema

   Último dia de férias, voltar ao mundo extremo racional, porém não foi isso que me levou a escrever o poema acima. Nem a quaresma, pois assim teríamos um apelo religioso e o tema, na verdade, vejo-o acontecer independente dela e que, por isso, não começou com a quarta-feira de cinzas.
   De início, por que lerias o poema? Mais alguém na internet a brincar de Camões e parecer ridículo? Tentei evitar tal consideração. O segundo verso já faz ligação com o tema, não se importar. Não se refere necessariamente ao verso anterior, mas ao sentido universal do tema discutido em seguida. E, caso não se importe (terceiro verso), apesar de um ser distante da cultura clássica e preso à vil contemporânea (quarto), não parecerá ter cometido algum crime.
   Quantas famílias, quantos lugares estão isentos de problemas? Também contigo parece que o mundo se esfacelas (sexto)? E nas que restam em paz, nas que percebem o terror que os rondam dentro das casas ou, mais esperado, atravessando a porta tecal, a busca da proteção divina, seus costumes, sua busca pela calma e pelo conhecimento (quinto verso).
   Então, quando uma mosca passa por mim enquanto escrevo, viera o sexto verso e o mal é então personificado. Seu veneno é o da corrupção, não somente a financeira, mas a corrupção da carne e do psicológico, a depressão, o 'tudo dar errado'. Por isso, não somente corta a pele ou mata, mas decepciona uma alma, muda o modo de ser. Uma doença, às vezes solidão (décimo segundo), às vezes depressão, o único brilho é o corisco, que se confunde com o brilho do olhar, raro, fosco (pelas trevas) e o poeta tem medo de não encontrar a cura para a situação.

Sobre a Estrutura

   Os versos são todos decassílabos (1, 6, 7, 9, 12 e 14 heróicos; 3, 8, 10, 11 e 13 sáficos). No primeiro verso, as primeira e segunda sílabas tônicas vão progredindo (2,6 - 3,7 - 4,8 - 5,9), em que busquei tal gradação sonora para indicar sufoco e uma busca para chamar a atenção ao poema. O poema é um soneto e as rimas tem a forma 'abcc bbdd abc abd'; nos tercetos joguei com os versos heróicos e sáficos e tentei surpreender na rima final, retomando o 'ais' da segunda estrofe (d).
   Sobre as rimas, o poema não segue constantes; há ricas e pobres e, em sua maioria, consoantes e graves; contudo segui apenas quatro terminações, daí a encontrarmos rimas em parágrafos distintos, aliás, a maioria se refere a outros parágrafos.
   Para o décimo verso, segui a bela construção de Olavo Bilac em "Nem só desejo o teu amor: desejo". Houve uma inversão no sétimo verso que levou à criação de nova interpretação, também aceita: de 'não conseguir encontrar paz' para 'não conseguir enxergar mais paz do que antes'. No décimo primeiro verso, a palavra "cria" pareceria mais bela que "e faz", contudo danificaria o esquema sonoro. Destaco também a estrutura do décimo segundo, onde "vejo só", analisando todo o verso, indica que  "o único brilho que enxergo é aquele típico da cólera", mas ao colocarmos uma vírgula antes de brilho, temos a referência à solidão. Honestamente, não sei como ficaria melhor, a vírgula traria a sílaba tônica para a quinta posição, enquanto, para deixar o verso heróico, privilegiamos o "bri", de brilho, na sexta.

  O excesso de espaços é devido ao problema com o blogger.

1 comentários:

  1. A análise acima foi minha, um literário poderia fazer outra escansão, bem como tirar outras conclusões do poema.

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